O dólar interrompeu nesta sexta-feira, 31, uma sequência de três sessões consecutivas de perdas ante o real, para fechar acima dos R$ 2,470. Os dados fiscais divulgados pelo governo durante a manhã, muito piores que o esperado, conduziram a busca por dólares no Brasil. E o viés de alta para o dólar ante várias divisas no exterior, no dia em que o Banco do Japão (BOJ, o banco central do país) anunciou mais estímulos à economia, contribuiu para o movimento. Na reta final dos negócios de balcão, algumas máximas também foram renovadas, em meio à disparada de ordens de stop no mercado futuro.
O dólar à vista negociado no balcão avançou 2,45%, aos R$ 2,4720, na máxima. Ordens de stop (parada de perdas) foram disparadas no mercado futuro perto desse horário, amplificando o movimento. Na mínima do dia, vista na abertura, marcou R$ 2,4000 (-0,54%). Com o resultado de hoje, o dólar terminou a semana com alta de 0,37%. No mercado futuro, que encerra apenas às 18 horas, o dólar para dezembro tinha alta de 2,98%, aos R$ 2,4890.
Pela manhã, o Tesouro Nacional informou que o governo central (Previdência, Tesouro e Banco Central) teve déficit de R$ 20,399 bilhões em setembro, jogando o acumulado do ano para o negativo em US$ 15,705 bilhões. É a primeira vez que o governo registra um rombo desde 1997, quando teve início a série histórica. O déficit de setembro é o quinto resultado negativo consecutivo registrado nas contas do Governo Central em 2014. Apenas em três meses (janeiro, março e abril), as contas do governo ficaram no azul em 2014.
Já os dados do setor público consolidado (governo central, Estados, municípios e estatais, com exceção de Petrobras e Eletrobras), divulgados pelo Banco Central, mostraram um déficit primário de R$ 25,491 bilhões em setembro. Este também é o pior resultado da série histórica. Também foi a primeira vez que o BC registrou déficit no resultado do setor público no acumulado do ano (R$ 15,286 bilhões).
Os números reforçaram a percepção de que a economia vai mal e o País corre o risco de ter seu rating rebaixado. Isso, no limite, poderia prejudicar ainda mais o fluxo de investimentos para o País.
No exterior, o BoJ surpreendeu o mercado ao anunciar novas medidas de estímulos à economia, reforçando suas compras de ativos pela primeira vez em um ano e meio, em um cenário em que a meta de inflação, de 2% ao ano, parece cada vez mais insustentável. Entre as medidas, está o aumento do seu volume anual de compras de ativos, para 80 trilhões de ienes, acima dos 60 trilhões de ienes anteriores. A base monetária também será ampliada, para 80 trilhões de ienes, com projeção de chegar ao patamar de 275 trilhões de ienes no fim do ano.
Após a decisão do BoJ, o dólar atingiu o maior nível em quase sete anos ante o iene. Isso serviu de gatilho para o avanço do dólar ante outras moedas, como o euro. Entre as divisas de países ligados a commodities ou emergentes, como o real brasileiro, o viés de alta também predominava. Perto das 16h30, o dólar subia 0,50% ante o australiano, avançava 0,84% ante o canadense, tinha ganho de 0,78% ante o neozelandês, subia 1,35% ante o rand sul-africano e tinha ganho de 0,98% ante a lira turca.
No Brasil, pela manhã, o Banco Central fez sua operação diária de swaps, na qual vendeu 4 mil contratos (US$ 197,5 milhões). O giro de negócios no mercado à vista da moeda americana era contido, de apenas US$ 759,9 milhões perto das 16h30. No mercado futuro, o dólar para dezembro (o mais líquido a partir de hoje) girava US$ 22 bilhões.