Quando Sevilla, Bayern de Munique, Juventus e Real Madrid entrarem em campo nesta terça-feira para dar início às quartas de final da Liga dos Campeões da Europa, estarão ajudando a confirmar uma tendência que começa a preocupar as autoridades europeias: a concentração de poder do futebol do continente em apenas cinco países, deixando 49 outras ligas nacionais como meras espectadoras. Barcelona x Roma e Liverpool x Manchester City, marcados para esta quarta, são os outros duelos de ida desta fase da competição.
Um informe oficial conduzido pela Comissão Europeia revela que o maior desafio da Uefa e das ligas nacionais nos próximos anos será o de manter a competitividade do futebol diante da disparidade cada vez maior entre os clubes.
Em um mercado desregulamentado, sem mecanismos de transferência de renda aos clubes menores e com uma concentração cada vez maior de recursos para um punhado de times, a Europa descobre que existe uma fronteira clara entre a elite do futebol e uma enorme massa de 700 clubes coadjuvantes, que não têm chances reais de títulos.
Os dados colhidos pelo governo europeu não deixam dúvidas: atualmente, Inglaterra, Espanha, França, Alemanha e Itália controlam o futebol europeu. Juntos, movimentam 67% do mercado do esporte mais popular do planeta, avaliado em 24,6 bilhões de euros (cerca de R$ 100,3 bilhões).
A disparidade aumentou nos últimos cinco anos. Exemplo disso é o mercado de jogadores. As cinco grandes ligas, batizadas como “Big 5”, gastavam 2 bilhões de euros (algo em torno de R$ 8,16 bilhões) com a compra de atletas em 2012. Cinco anos depois, o volume atingiu 5,9 bilhões de euros (aproximadamente R$ 24 bilhões). “O sistema de transferência é parte de um círculo vicioso, no qual os clubes mais ricos são capazes de gastar mais dinheiro com transferências, aumentar suas chances de conquistar troféus, o que acaba gerando mais renda para poder comprar os melhores jogadores do mundo”, destacou a Comissão Europeia.
Os 15 maiores clubes da Europa ampliaram seus contratos de marketing e patrocínio em 1,5 bilhão de euros (cerca de R$ 6,1 bilhões) em cinco anos. Já os demais 700 clubes conseguiram, somados, aumentar os seus contratos somente em 435 milhões de euros (aproximadamente R$ 1,774 bilhão).
Outro indicador é a participação de times entre os quatro semifinalistas da Liga dos Campeões. Entre 1985 e 1996, 22 clubes dos cinco campeonatos mais ricos chegaram às semifinais. Mas, nos últimos 11 anos, todos os 44 semifinalistas vieram dos “Big 5”. “No longo prazo, a competitividade de outras ligas certamente foi encolhida”, disse a comissão. “A atual concentração de recursos não indica qualquer tipo de inversão dessa tendência”, concluiu o informe.