A gestão do prefeito João Doria (PSDB) cedeu à pressão da bancada evangélica na Câmara Municipal de São Paulo e incluiu no projeto de privatização do Anhembi, na zona norte da capital, um artigo que reserva o sambódromo paulistano 75 dias por ano para eventos de carnaval, religiosos entre outros.
Com a mudança no projeto, Doria garante o apoio dos 17 vereadores da bancada religiosa e deve aprovar ainda nesta semana, em primeira votação, a privatização da São Paulo Turismo (SPTuris), empresa de eventos da Prefeitura e dona do Complexo do Anhembi, que inclui o sambódromo, pavilhões e auditórios. O novo texto começa a ser discutido nesta quarta-feira, 27, na Câmara.
A versão original do projeto definia apenas que o futuro dono do Anhembi teria de ceder o sambódromo por 60 dias por ano para a realização do carnaval. Na última terça-feira, 26, a bancada religiosa, que reúne 17 vereadores evangélicos e católicos, se reuniu com secretários de Doria e cobrou para as igrejas “o mesmo direito do samba”.
A pedido dos evangélicos, o novo texto diz ainda que a utilização do sambódromo para eventos religiosos poderá ser substituída pela utilização de auditórios ou salões de eventos do Anhembi, com capacidade mínima para 800 pessoas. Na prática, o futuro dono do Anhembi terá de ceder ou alugar os espaços para a Prefeitura, que fará a cessão para as igrejas. Desta forma, os vereadores poderão continuar usando o dinheiro da emenda parlamentar para financiar os eventos.
Outra alteração solicitada e feita no projeto foi a inclusão de um artigo dizendo que as atividades hoje feitas pela SPTuris serão exercidas pela Secretaria do Turismo ou por uma nova empresa pública que será criada. Hoje, é a SPTuris quem disponibiliza estrutura de palco, som e iluminação para os eventos religiosos bancados com emenda parlamentar. Os vereadores temiam que a privatização da estatal inviabilizasse essas atividades.
Construção
A gestão Doria também incluiu no projeto, a pedido de vereadores, um artigo definindo os índices e parâmetros urbanísticos para o Anhembi, com base na Lei de Zoneamento aprovada em 2016, para deixar as regras mais claras para o investidor que adquirir o complexo.
Pela lei, quem assumiu o local poderá construir até 1 milhão de metros quadrados na área, que hoje tem cerca de 400 mil metros quadrados de área construída, já incluindo o sambódromo. A avenida do samba, contudo, não poderá ser modificada, apenas coberta. Já os galpões de exposição poderá dar lugar a prédios sem limite de altura.
O único empecilho para a verticalização do espaço é a presença do aeroporto do Campo de Marte, que fica do outro lado da avenida, na Casa Verde. Por causa dos voos de aviação executiva, os limites de construção são reduzidos. A gestão Doria negocia com a Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero) a desativação da asa fixa do Campo de Marte, encerrando os voos e destravando o desenvolvimento imobiliário da região.