O número de ocorrências de furto de componentes e vandalismo contra semáforos na cidade de São Paulo dobrou nos oito primeiros meses de 2020 na comparação com o mesmo período de 2019. Levantamento da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) mostra que, entre janeiro e agosto deste ano, foram registrados 2.800 boletins de ocorrência desse tipo de crime, número que representa, em média, 12 semáforos danificados por dia.
"Trata-se de um aumento de 106% em relação ao mesmo período do ano de 2019, quando foram contabilizados 1.358 casos. Entre janeiro e agosto, foram reinstalados 258 quilômetros de fiação elétrica nos equipamentos alvos de dano ao patrimônio, uma distância aproximada entre São Paulo e a cidade de Cananéia, no litoral sul paulista", afirmou a companhia.
A Secretaria da Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP) acrescenta que a polícia realiza constantemente operações para combater o furto e receptação de fios e cabos. Desde o início do ano, mais de 3,2 toneladas de metais nobres, incluindo cobre, foram apreendidas e, ao menos, 26 criminosos envolvidos com essa prática foram presos na capital paulista.
O número de ocorrências desse tipo de crime em 2020 também já é maior que o total de 1.969 registros contabilizados em todo o ano passado. Em 2019, além dos equipamentos eletrônicos, foram furtados aproximadamente 176 quilômetros de cabos elétricos, quantidade também menor que neste ano.
Além de prejuízos financeiros, que de janeiro até maio deste ano já contabilizam R$ 5 milhões, de acordo com a CET, o ato de vandalismo contra um controlador pode afetar o funcionamento de até cinco cruzamentos semaforizados em uma mesma região. O centro da cidade costuma apresentar o maior número de falhas semafóricas por esse tipo de crime. Apesar disso, o aumento de casos neste ano está mais expressivo na zona leste.
Constantemente, o trânsito na Avenida do Imperador, nas proximidades da Avenida Jacu-Pêssego, no Jardim Guarani, zona leste da cidade, fica congestionado, em razão de semáforos apagados. "Há mais de um mês, os quatro semáforos do entorno estavam quebrados", disse a vendedora Neide Martins, de 47 anos, que mora no bairro. Na sexta-feira, 2, segundo ela, dois permaneciam desligados. "O trânsito fica muito ruim na região, principalmente no horário de pico", acrescentou a moradora.
Quando a sinalização não está funcionando, a CET mantém cavaletes no cruzamento com a Avenida Ribeirão Jacu, para impedir o motorista de cruzar a Avenida do Imperador. "O problema é que alguns motoristas retiram os cavaletes, bloqueiam a Avenida Imperador na tentativa de cruzá-la, deixando o trânsito totalmente parado. Dificuldade também tem o pedestre para atravessar em segurança", relatou Neide.
Além de realizar reparos e substituições necessárias nos equipamentos danificados, a CET tem feito o "alteamento dos controladores semafóricos, a concretagem e soldagem das tampas das caixas de passagem da fiação, bem como das janelas de inspeção das colunas semafóricas para inibir o furto de fios e vandalismo dos equipamentos", disse a companhia.
Locais recordistas de furtos no período de janeiro a agosto de 2020:
Avenida Estrada do Imperador (zona leste)
Avenida Sapopemba (zona leste)
Avenida Inajar de Souza (zona norte)
Avenida Jacu-Pêssego/ Nova Trabalhadores (zona leste)
Rua da Consolação (centro)
Avenida do Estado (centro)
Avenida Professor João Batista Conti (zona leste)
Avenida Ipiranga (centro)
Rua Martim Francisco (centro)
Avenida Duque de Caxias (centro)
Avenida Nagib Farah Maluf (zona leste)
Rua Dona Veridiana (centro)
Avenida Rio Branco (centro)
Todas as ocorrências de furto e vandalismo são registradas junto à autoridade policial. A CET afirma ainda que mantém diálogo frequente com a SSP, polícias Civil e Militar e a Guarda Civil Metropolitana (GCM) para adotar medidas de combate ao crime. Entre março e junho deste ano, foram registrados nove flagrantes de furto ou vandalismo contra semáforos.
O policiamento ostensivo e preventivo nas regiões citadas também é reorientado com base nos indicadores criminais. "Policiais civis do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) realizam regularmente vistorias em estabelecimentos comerciais destinados à venda de sucata e investigam também crimes patrimoniais ocorridos contra concessionárias de serviços públicos", afirmou a SSP.
<b>Balanço do Município de São Paulo</b>
À pedido do <b>Estadão</b>, a Prefeitura de São Paulo revela que, com base em ocorrências registradas exclusivamente pelo 156, entre janeiro e agosto deste ano, foram recebidas 4.123 solicitações para serviços de aviso de semáforo com problemas, aviso de sinalização com risco de queda e sugestão de ajuste de tempo em semáforo de veículos e pedestres, número 3,6 vezes maior que o registrado para o mesmo período de 2019, quando foram feitas 1.124 solicitações. O número também já é maior que o registrado durante todo o ano passado, que teve 2.671 pedidos.
"Ressaltamos que as ocorrências passaram a ser registradas exclusivamente pelo 156 a partir de outubro do ano passado, após um período de transição", disse, em nota.
Subprefeituras com maior quantidade de pedidos recebidos em 2020:
Sé (562)
MBoi Mirim (396)
Pinheiros (378)
Santo Amaro (344)
Vila Mariana (275)
Lapa (151)
Mooca (144)
Campo Limpo (143)
Santana (140)
Casa Verde/ Cachoeirinha (135)
Segundo a Prefeitura de São Paulo, com 562 solicitações nos oito primeiros meses de 2020, registrando aumento de 282% em relação ao mesmo período do ano anterior, que teve 147 pedidos, a subprefeitura da Sé lidera o ano com número de registros.
Em Santa Cecília, centro da cidade, é comum o semáforo que fica na Rua Dona Veridiana com a Rua Frederico Abranches ficar apagado ou em amarelo piscante por diversos dias seguidos. Perto dali, pelo menos três vezes por semana, a produtora cultural aposentada Irene Kantor também observa semáforos sem funcionar no bairro de Higienópolis, centro da capital paulista. Segundo ela, a situação é frequente na Rua Itacolomi na esquina com a Rua Sergipe e Rua Maceió com a Avenida Angélica. "Em Perdizes, zona oeste da cidade, a sinalização semafórica também apresenta defeito constantemente na Rua Cardoso de Almeida com a Rua Zequinha de Abreu", acrescentou a produtora cultural.
Os danos provocados por semáforos com problemas colocam em risco a segurança dos pedestres, ciclistas, motociclistas e motoristas. "Mesmo sem fortes chuvas e raios, os semáforos ficam constantemente apagados nesses locais, provocando transtornos ao trânsito e risco aos pedestres que tentam atravessar as vias", reclamou Irene. Segundo a CET, a Rua Cardoso de Almeida e a Rua Itacolomi são frequentemente alvos de atos de vandalismo semafórico.
A capital conta com 6.570 cruzamentos e travessias semaforizadas, conforme informou a CET.