O presidente do Banco central Europeu (BCE), Mario Draghi, apresentou um tom bastante “dovish” (inclinado a mais relaxamento monetário) na entrevista concedida à imprensa em Frankfurt após a reunião de política monetária da instituição. O BCE manteve a taxa de juros de refinanciamento em 0,05% e a taxa de depósitos em -0,30% e não mudou o programa de compras mensais de ativos.
“Não há limites para ação dentro do nosso mandato”, disse Draghi. Por mais de uma vez o presidente do BCE respondeu aos jornalistas que a instituição “tem o poder, a disposição e a determinação para agir”. As declarações reforçaram o sinal dado pelo comunicado do BCE lido por Draghi, no qual o banco central afirmou que poderá ser necessário “revisar e talvez reconsiderar a política monetária na próxima reunião”.
Entre os fatores destacados por Draghi como negativos para as perspectivas econômicas da zona do euro estão a desaceleração da China e a queda dos preços das commodities. No entanto, Draghi se mostrou otimista com relação à situação chinesa e disse que, embora o BCE esteja monitorando os acontecimentos no país, a avaliação é de que o desempenho daquela economia está “em boa parte dentro do esperado”.
“As autoridades da China têm mostrado que estão retomando o controle da situação”, avaliou Draghi, em referência às medidas tomadas pelo governo chinês nas últimas semanas para tentar conter a queda das bolsas locais e a volatilidade no mercado de câmbio.
Draghi reconheceu que a desaceleração chinesa contribui para a queda dos preços das commodities, já que a China é um grande consumidor desses produtos e, com um crescimento menor, reduz a demanda mundial por eles. “Nós monitoramos a persistência, o tamanho e os efeitos secundários que a queda dos preços das commodities pode ter”, disse o presidente do BCE, destacando que o petróleo teve uma queda expressiva desde dezembro.
Na visão de Draghi, o recuo das commodities, “não apenas o petróleo”, não é um fator pontual. “Temos de levar a sério os baixos preços das commodities por um tempo prolongado”.
O presidente do BCE também foi perguntado sobre o grande fluxo de refugiados que têm entrado na Europa e sobre a recente pressão sofrida pelos bancos italianos. Draghi afirmou que a questão dos refugiados está mudando a cara da sociedade europeia e defendeu que é possível transformar esse evento em oportunidade no futuro.
Com relação à forte queda das ações de bancos italianos observada desde segunda-feira, Draghi disse não ver justificativa para o movimento. Os bancos italianos informaram na noite de segunda-feira que haviam recebido uma solicitação do BCE para fornecer informações relacionadas a empréstimos inadimplentes. “O questionário sobre inadimplência foi enviado para vários bancos da zona do euro, não só os italianos”, afirmou.
Draghi também reiterou durante a entrevista que a taxa de câmbio não é uma meta da política monetária.