A Drumwave, startup que funciona como uma espécie de cartório de dados digitais, fez nesta quarta-feira, 31, o anúncio oficial de lançamento da sua plataforma que permite a consumidores e empresas negociarem a venda desses dados. Trata-se de uma aposta em um mercado embrionário, mas que tem potencial para movimentar globalmente US$ 1,8 trilhão no longo prazo, segundo o presidente da companhia, Fernando Teles.
O executivo comandou a Visa no Brasil por cinco anos e antes disso trabalhou outros dez no Itaú Unibanco, onde liderou a área de cartões. Em 2021, ele assumiu a presidência da Drumwave, fundada em 2015 em Palo Alto, na Califórnia, pelo colombiano Santiago Ortiz e pelos brasileiros Alberto Blumenstein e André Vellozo.
A startup reúne, certifica e precifica dados de consumidores detidos pelas empresas. Depois compila essa massa de informações e entrega aos consumidores (seus donos originais) por meio de uma carteira digital. Estes, por sua vez, poderão vender os dados a outras empresas interessadas por meio de agentes intermediadores.
Por exemplo: um consumidor gera muitos dados ao acessar um site ou aplicativo de loja de roupas: que tipo de produtos pesquisa, tamanho, quantas vezes compra etc. A mesma coisa se repete na relação com bancos, farmácias, academias, entre outros, gerando informações que são úteis para que outras empresas possam desenvolver ou aperfeiçoar produtos e serviços, captar tendências de mercado, realizar customizações e por aí vai.
"As pessoas vão passar a pedir esses dados porque vão saber que isso tem valor", argumenta Teles, em entrevista coletiva à imprensa. Ele reconhece, entretanto, que será preciso estimular as partes a iniciarem esse tipo de prática, que não acontece hoje em dia. "Tem que haver uma mudança de cultura. Esse é um mercado que ainda não existe", diz.
O serviço passará a funcionar comercialmente no fim deste ano no Brasil e a partir do ano que vem nos Estados Unidos. A escolha pelo Brasil para a largada se deu pelo tamanho da economia local e pelo gosto da população por novas tecnologias, segundo Teles. "Depois nós vamos escalar o negócio". Também há previsão na Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) de que as pessoas são as verdadeiras donas dos dados.
A carteira digital da Drumwave aparecerá dentro de aplicativos de companhias que tenham uma quantidade relevante de clientes, de modo a massificar os conteúdos, tais como empresas de telecomunicações e bancos, por exemplo.
A IBM faz parte do negócio como fornecedora da tecnologia para acesso e armazenamento de dados. Ela não participa na negociação ou monetização. "Tudo isso vai rodar na nuvem da IBM, que garante a integridade desse processo", fala o vice-presidente de Dados e Inteligência Artificial da IBM na América Latina, Joaquim Campos.
A Drumwave ficará com uma comissão do valor dos dados vendidos pelos clientes no mercado. Teles diz que haverá cerca de seis empresas trabalhando inicialmente como intermediadores nesse mercado, conectando os consumidores donos dos dados a ofertas de empresas interessadas.