Os filmes A Menina Que Matou os Pais e O Menino Que Matou os Meus Pais, que estreiam nesta sexta-feira, 24, na Amazon Prime Video, mostram diferentes pontos de vista do brutal assassinato de Manfred e Marísia von Richthofen. As produções são protagonizadas por Carla Diaz, que vive Suzane von Richthofen, e Leonardo Bittencourt, intérprete do namorado dela, Daniel Cravinhos.
Em 2002, Suzane, filha do casal, e Cravinhos chocaram o Brasil quando se declararam culpados pelo crime. Enquanto A Menina Que Matou os Pais é inspirado no depoimento de Daniel, O Menino Que Matou Meus Pais baseia-se no de Suzane.
"A preparação para viver duas personagens tão diferentes foi intensa. E, além disso, tem a versão da personagem contada no tribunal, na qual achamos que é outra construção também. Isso porque, além de mostrarmos o que aconteceu antes do crime e como era o relacionamento deles, naquele momento do julgamento, ela já foi presa e está com uma diferença de idade", explicou Carla Diaz.
Os roteiros têm como base informações contidas nos autos do processo, que terminou com a condenação do casal e do irmão de Daniel, Cristian. Os namorados foram sentenciados a 39 anos e seis meses, enquanto Cristian recebeu sentença de 38 anos e seis meses.
A criminóloga Ilana Casoy atuou como consultora para os longas e também auxiliou o escritor Raphael Montes a construir as histórias. Em entrevista ao <i>Estadão</i>, o roteirista explica que, como o caso já era muito conhecido, ele e a equipe decidiram contar o que houve antes do crime e, ao deparar com as diferentes versões dos depoimentos, perceberam que fazer dois filmes iria possibilitar uma imersão inovadora na história.
"Há alguns elementos que eu desconhecia e acho que o grande público também. A gente quis fazer duas produções que fossem além do próprio caso, que tratassem de um drama humano, de uma tragédia humana", afirma.
O diretor Maurício Eça reitera que os filmes se completam. "Quando decidimos fazer os dois, percebemos que cada depoimento tem uma nuance. Há histórias que aparecem em um filme, mas não em outro. Cada um resolveu contar uma narrativa que defenda a sua verdade. Então, construímos esses dois longas como um quebra-cabeça que se encontra."
"Outra coisa que resolvemos foi não filmar diferente, é como se fosse o mesmo estilo, da mesma história, só que duas versões distintas. Eu não podia usar imagens em tons mais quentes e outras mais frias, por exemplo. Então, quem dita o ritmo de cada filmagem são os próprios depoimentos", diz.
Sobre os desafios de interpretar dois protagonistas, Carla Diaz e Leonardo Bittencourt revelaram que muitas cenas dos dois filmes foram gravadas no mesmo dia. "Nosso maior foco na construção dos personagens foram os estados emocionais. É uma história que todos sabem o fim, mas ninguém sabe como se chegou a isso", conta a atriz. "Por isso, a gente precisava criar emoções distintas da mesma cena. Isso porque no mesmo dia que a gente gravava um filme também filmamos o outro."
Para Leonardo, além do formato inovador, os filmes evidenciam um tema pouco debatido na sociedade. "É importante que a gente entenda que não foi um caso isolado há quase 20 anos. Tanto que, no próprio dia, aconteceram outros quatro crimes parecidos em São Paulo, mas a mídia deu mais atenção para esse. Os filmes não vêm para trazer respostas, mas novos questionamentos", explica.
Carla compartilha quais são esses questionamentos: "A arte vem para debater. Então, crimes de filhos contra pais são mais comuns do que se imagina e por que isso não é questionado? Por que ainda acontece? Acredito também que as produções vêm para abrir mais o gênero de true crimes no Brasil, ainda pouco produzido por aqui".
"Muita gente perguntou: Vocês não estão romantizando essa história? , glamourizando os personagens? . Pelo contrário, estamos mostrando do ponto de vista de quem viveu e levantando indagações pertinentes. Espero que o público entenda que os filmes precisam gerar questionamentos", explica o diretor.
Leonardo reitera ainda que a falta de conhecimento sobre o gênero faz com que as pessoas imaginem que, "para falar de um crime, é preciso contar como se fossem dois mocinhos, mas não se trata disso. Vamos trazer veracidade e fazer com que essa história seja contada com respeito, porque os familiares das pessoas que faleceram ainda estão vivos". As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>