Duílio Monteiro Alves, presidente do Corinthians até o mês passado, registrou um Boletim de Ocorrência (B.O.) nesta quinta-feira após a nova gestão, encabeçada por Augusto Melo, afirmar que encontrou câmeras e microfones escondidos na sala da presidência no Parque São Jorge, sede social do clube, localizada na zona leste de São Paulo. O caso foi encaminhado para o 52º Distrito Policial. O ex-mandatário corintiano pede que uma investigação seja aberta por acreditar ter sido ele o alvo de espionagem.
Na quarta-feira, o jornal <i>Folha de S.Paulo</i> informou que os equipamentos de gravação foram encontrados após Augusto Melo determinar uma varredura nas instalações do clube. Além da sala da presidência, as câmeras e os microfones foram encontrados em espaços onde são realizadas reuniões com dirigentes e conselheiros. Procurada pelo <b>Estadão</b>, a diretoria informou que decidiu não realizar um Boletim de Ocorrência para "não alimentar a polêmica". Em breve nota oficial encaminhada à imprensa, o clube lamentou a situação, mas disse que "não se surpreende com o fato relatado".
Segundo o B.O., documento que o <b>Estadão</b> teve acesso, Duílio afirma que tomou conhecimento sobre o assunto por meio da imprensa e diz que nunca suspeitou da existência dos dispositivos. Ele classifica a situação como "preocupante" e ressalta a necessidade de uma investigação para apurar quem instalou os equipamentos e qual a motivação.
"É inadmissível que um caso como esse seja noticiado pela própria diretoria atual e que não haja desdobramento investigativo condizente com a gravidade do que foi relatado", disse Duílio, em comunicado. "É imprescindível saber a verdade desses fatos, e por isso recorri às autoridades competentes. É o que deveria ter sido feito desde o início. A Fiel tem o direito de saber o que se passa, o que é verdade e o que é mentira", completou.
A política corintiana ganhou ares de tensão no ano passado, quando a oposição se ateve à candidatura única de Augusto Melo, segundo colocado no pleito anterior, para encerrar um período de 16 anos do grupo de Andres Sanchez no poder. Com Duílio fora da disputa, a chapa da situação, Renovação e Transparência, indicou o conselheiro André Luiz Oliveira, mais conhecido como André Negão. A campanha foi marcada por acusações de ambos os lados e disputa por apoio interno. Augusto chegou a registrar um B.O. alegando ter sido ameaçado de morte e chegou ao local de votação usando um colete à prova de balas. Ele venceu nas urnas com 2.771 votos (66,2%), contra 1.413 (33,78%) de André.
Após assumir o cargo, Augusto Melo afirmou que a situação no clube é "pior do que imaginava", contestando valores divulgados pela gestão de Duílio e suspendendo uma negociação por patrocínio máster. O novo presidente contratou uma empresa de auditoria, a Erns & Young, para avaliar a real situação do Corinthians e pregou transparência financeira nos novos negócios, incluindo uma mudança no modelo de contratação de atletas. Recentemente, o Corinthians dispensou medalhões, contratou três reforços e anunciou o maior patrocínio do País, da casa de apostas Vai de Bet, que vai pagar ao clube R$ 360 milhões ao longo de três anos.