Estadão

Duplo ataque com mísseis russos deixa 20 mortos na cidade ucraniana de Odessa

Ao menos 20 pessoas morreram e outras dezenas ficaram feridas após um ataque com mísseis russos na cidade portuária de Odessa, no sul da Ucrânia, nesta sexta-feira, 15, mesmo dia em que a Rússia realiza suas eleições presidências que darão à Vladimir Putin mais seis anos de mandato. Foram ao menos dois ataques, sendo que o segundo ocorreu quando equipes de emergência faziam o socorro das vítimas do primeiro bombardeio.

Os mortos incluíam um paramédico e um trabalhador do serviço de emergência. Outras 73 pessoas ficaram feridas, disseram autoridades. Pelo menos 10 casas em Odessa e equipamentos de serviço de emergência foram danificados no bombardeio, que causou um incêndio, de acordo com autoridades de emergência e o governador regional Oleh Kiper.

Os serviços estatais de emergência da Ucrânia disseram que um primeiro míssil atingiu várias casas no final da manhã (horário local, madrugada do Brasil), o que levou as equipes de resgate a correrem para o local. Um segundo míssil caiu no mesmo local, causando a maior parte do número atual de mortos. Os relatos não puderam ser verificados de forma independente. Imagens divulgadas pelas autoridades mostravam socorristas exaustos, cobertos de sangue, apagando as chamas e tratando os feridos.

A tática de disparar um segundo míssil no mesmo local, visando atingir os socorristas, é conhecida em termos militares como um duplo ataque. Tais bombardeio frequentemente atingem civis.

Natalia Humeniuk, porta-voz do Exército ucraniano no sul, disse que o ataque envolveu mísseis balísticos disparados da Crimeia, a península ucraniana ocupada pela Rússia.

O governador decretou dia de luto na cidade no sábado, 16, o segundo em menos de duas semanas. Em 2 de março, um drone russo atingiu um prédio de vários andares, matando 12 pessoas, incluindo cinco crianças.

Desde o ano passado, a Rússia intensificou seus ataques a Odessa, uma cidade portuária do sul com uma população de cerca de 1 milhão de habitantes.

Os ataques têm como alvo principalmente a infraestrutura portuária, visando interromper a exportação de mercadorias depois que a Ucrânia conseguiu restaurar a navegação marítima com uma série de operações bem-sucedidas no Mar Negro. Autoridades de Moscou também afirmaram que estão mirando em instalações onde drones marítimos ucranianos são armazenados para ataques à frota do Mar Negro da Rússia.

"O terror russo em Odessa é um sinal da fraqueza do inimigo, que luta contra civis ucranianos em um momento em que não consegue garantir a segurança do seu povo no seu próprio território", disse Andrei Iermak, um alto funcionário do governo ucraniano. Iermak se refere aos recentes ataques ucranianos e às incursões de milícias russas pró-ucranianas em território russo.

Os portos da região de Odessa foram fundamentais para o acordo internacional do ano passado que permitiu à Ucrânia e à Rússia enviar seu trigo para o resto do mundo.

Os moradores de Odessa falam predominantemente russo, e o passado da cidade está entrelaçado com algumas das figuras mais veneradas da Rússia, incluindo Catarina, a Grande, o autor Liev Tolstói e a poetisa Anna Akhmátova. Sua catedral ortodoxa pertence ao patriarcado de Moscou e – pelo menos até o Kremlin anexar ilegalmente a península da Crimeia vizinha em 2014 – suas praias eram amadas pelos turistas russos.

Na semana passada, um míssil atingiu a cidade durante a visita do presidente Volodmir Zelenski e do primeiro-ministro Kyriakos Mitsotakis da Grécia, matando cinco pessoas. Zelenski disse mais tarde a uma estação de televisão italiana que o míssil atingiu menos de 800 metros do local onde ele estava com Mitsotakis.

"Não sei a quem se destinava este ataque", disse Zelenski, acrescentando que era "incrível" que a Rússia pudesse atingir a cidade durante a visita de líderes de Estado. O ataque atraiu condenação generalizada de líderes estrangeiros.

Reagindo aos ataques desta sexta em Odessa, Zelenski disse numa declaração em vídeo que a tática de duplo ataque o tornou "um bombardeio muito vil". Ele acrescentou que as equipes de resgate continuam procurando pessoas sob os escombros.

Enquanto isso, na região fronteiriça russa de Belgorod, o governador regional Viacheslav Gladkov disse que um membro das forças territoriais de defesa regional foi morto e duas pessoas ficaram feridas em bombardeios ucranianos também nesta sexta.

Durante a noite na Ucrânia (tarde de ontem no Brasil), duas pessoas também foram mortas e três ficaram feridas na região central de Vinnitsia depois que a Rússia atingiu um prédio com um drone, de acordo com o governador regional Serhii Borzov.

A força aérea ucraniana disse ter abatido todos os 27 drones Shahed que a Rússia lançou sobre as regiões de Kharkiv, Vinnitsia, Kirovohrad, Mikolaiv, Khmelnitski e Kiev.

<b>Eleições russas</b>

O bombardeio contra Odessa coincide com o primeiro dia das eleições presidenciais na Rússia, nas quais o presidente Vladimir Putin, no poder há 24 anos, tem garantida a sua reeleição. As eleições também ocorrem nos territórios ocupados pela Rússia na Ucrânia e na Transnístria, um território separatista pró-Rússia localizado na Moldávia.

Putin, de 71 anos e no poder desde 2000 como presidente ou primeiro-ministro, busca transformar as eleições em uma demonstração de apoio à sua ofensiva militar na Ucrânia, que completou dois anos no mês passado.

A vitória mais que provável de Putin nestas eleições sem oposição real lhe permitirá permanecer no poder até 2030, mais tempo do que qualquer líder russo desde Catarina, a Grande, no século XVIII, incluindo o ditador Josef Stalin, que ficou no poder por 28 anos.

Nos últimos meses, o Kremlin ganhou confiança devido às recentes conquistas territoriais na antiga república soviética.

As eleições, nas quais Putin enfrenta três candidatos que não expressam oposição à ofensiva na Ucrânia ou à repressão que dizimou a dissidência, acontecem um mês após a morte do principal crítico do Kremlin, Alexei Navalni, em uma prisão do Ártico.

Tanto a Ucrânia como os governos das potências ocidentais descreveram as eleições como uma "farsa". O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, felicitou sarcasticamente Putin pela sua "vitória esmagadora" nesta sexta-feira. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

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