Estadão

Dúvidas fiscais locais e sobre equipe econômica do novo governo pesam no Ibovespa

O apetite a risco moderado no exterior, com a volta dos mercados de Nova York após o feriado de Ação de Graças na quinta-feira, 24, e a alta das commodities são insuficientes para animar o Ibovespa nesta sexta-feira, 25. O índice da Bovespa cai, chegando a recuar 0,97%, na mínima intradia dos 110.748,35 pontos, ante abertura aos 111.831,16 pontos, em meio a preocupações com a saúde fiscal do Brasil.

O desempenho do índice Bovespa está muito mais relacionado a fatores políticos, afirma Marco Noernberg, líder de renda variável da Manchester Investimentos. Ontem, relembra, subiu em meio a uma possível dobradinha entre Fernando Haddad (PT) e Pérsio Arida, da ala liberal, na gestão do novo governo, na Economia. "O mercado já parece precificar de forma negativa o Haddad na Fazenda. Só que eventualmente um nome mais técnico para trabalhar diretamente junto a ele ou no Planejamento, como o do Persio, suaviza", avalia.

Ontem, sem Nova York, o Ibovespa fechou em alta de 2,75%, aos 111.831,16 pontos, com giro de negócios em R$ 18 bilhões, em dia também de valorização do real e queda dos DIs, em meio ao entusiasmo dos mercados com essa possível "dobradinha" Haddad e Pérsio Arida.

O economista seria ou secretário-executivo do petista ou o ministro do Planejamento.

Na avaliação de Bruno Takeo, analista da Ouro Preto Investimentos, o bom humor interno na véspera tem pouco ou quase nada de fundamento. "Enquanto o Lula não entrar nas negociações da PEC, só veremos especulação e muita volatilidade", diz, acrescentando que a alta do índice Bovespa ontem não indica tendência. "Não dá para confiar no movimento. Foi em cima do vazio Nova York fechada, da falta de liquidez."

"Ontem foi só um movimento de alívio, e não uma mudança de tendência. Por isso vemos o cenário de devolução dos prêmios de ontem. Os DIs querendo ganhar corpo, o dólar mais forte e a Bolsa caindo", reforça o estrategista-chefe do Grupo Laatus, Jeferson Laatus.

Por isso, os investidores aguardam o resultado do encontro que acontecerá hoje entre Lula e aliados, que tentarão destravar a PEC da Transição, além do almoço da Febraban. É lá que o ex-prefeito de São Paulo, cujo nome tem aparecido entre as principais apostas para ocupar a Fazenda no novo governo, passará por uma espécie de teste político. Ele representará Lula no evento da Febraban, que ainda contará com a presença do presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto.

"O fato de Haddad ir representar Lula no evento não agradou ao mercado. Além disso, Lula tem reunião com aliados para destravar a PEC da Transição. Na dúvida, o investidor busca segurança", explica Laatus.

Na somatória, prevalece o sinal positivo dos mercados de ações do ocidente. Além disso, as commodities avançam, com os investidores ainda ignorando o aumento de casos de covid-19 na China e consequente imposição de restrições à atividade no país.

O petróleo do tipo Brent, referência para a Petrobras, sobe em torno de 1,5%, enquanto o minério de ferro teve alta de 3,27% na bolsa de Dalian.

O mercado parece dar mais atenção aos estímulos chineses à economia. Depois de bancos estatais injetarem 270 bilhões de yuans no setor imobiliário, hoje o banco central do país cortou a taxa de compulsório, o que tende a gerar 500 bilhões de yuans em liquidez.

A valorização do minério estimula ganhos das ações do setor na B3, enquanto as da Petrobras cedem quase 2%, diante de incertezas sobre o futuro da empresa no novo governo.

Às 11h20, o Ibovespa caía 1,27%, aos 110.408,41 pontos, na mínima.

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