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É tudo filho do Roriz

Sou um cidadão comum, não tenho parentes no primeiro, segundo ou oitavo escalão de qualquer governo. E ainda assim, mantenho-me honesto. E essas qualidades, frisadas até aqui, para mim, não são nada mais do que a obrigação de alguém que se propõe a ter uma história marcada pela decência. Espero deixar para meus filhos exemplos positivos.


De forma lamentável, na noite da última terça-feira, assistindo a TV Câmara (sim, existem pessoas que fazem isso), fui obrigado a engolir uma senhora do Distrito Federal, deputada, ir à Tribuna da maior Casa de Leis do país, dizer – em outras palavras – que praticou sim um crime. Mas na época que o fez, não era parlamentar, que não estava ligada diretamente a qualquer governo. Nem se mostrando arrependida, ela estava. Mas dizia que tudo isso poderia ser o passaporte para sua absolvição.


Não queria acreditar que isso seria possível. Aliás, não seria se o cenário fosse outro que não nosso Congresso Nacional. Sim, a maioria dos parlamentares que ali estavam foram seduzidos pela defesa e liberaram a deputada da cassação. Ou seja, ela continua sendo a minha, a sua, a nossa representante lá em Brasília, por mais que jamais qualquer um de nós tenha votado nessa filha do Roriz.


É demais triste constatar que a democracia, que tanto perseguimos, tem dessas coisas. Que essa senhora, flagrada com a mão na cumbuca, possa – com o peso de seu voto – decidir as leis que regem nosso país.  Pior ainda saber que outros 250 filhos do Roriz, que endossaram a corrupção, têm o mesmo poder que a infeliz. Pensando bem, nós é que somos infelizes.


Se não bastasse tudo isso para formalizar a tragédia do final de agosto, dói saber que a maior parte da população brasileira, aqueles que vão às urnas obrigatoriamente a cada dois anos, não está nem aí com essa cambada de filhos do Roriz. Aé? Verdade? Puxa? Mas amanhã, basta um pouco de pão e circo para tudo se repetir.


Em tempo: pelo menos os dois deputados de Guarulhos, segundo se manifestaram ao HOJE desta sexta-feira, não compactuaram com essa sujeirada toda. Parabéns Janete Pietá e parabéns Carlos Roberto. Ainda existe luz no fim do túnel.


 


Ernesto Zanon


Jornalista, diretor de Redação do Grupo Mídia Guarulhos, escreve neste espaço na edição de sábado e domingo


No Twitter: @ZanonJr

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