A economia brasileira teve, entre abril e junho, o pior desempenho desde o primeiro trimestre de 2009, quando ainda se reerguia do momento mais crítico da crise internacional. O Produto Interno Bruto (PIB) encolheu 1,8% no segundo trimestre ante os três primeiros meses do ano, na série com ajuste sazonal, estima o Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), por meio do Monitor do PIB.
Grande parte do recuo se deve à redução no consumo das famílias, que terá a segunda queda seguida em relação ao trimestre anterior, algo inédito desde 2002. O Monitor emprega igual metodologia e recorre às mesmas fontes de dados que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) utiliza no cálculo oficial, cujo resultado será divulgado no próximo dia 28.
No acumulado em 12 meses, o PIB brasileiro já acumula retração de 1,2%, nos cálculos do Ibre/FGV, aprofundando a desaceleração vista desde o segundo trimestre de 2014. O ritmo segue na direção do esperado por economistas. Segundo o Boletim Focus, do Banco Central, a expectativa é de queda de 1,97% em 2015, o que seria o pior resultado desde 1990.
O consumo das famílias, que no início do ano teve o primeiro recuo desde 2003, deve continuar nessa trajetória no segundo trimestre. Segundo o Ibre/FGV, a demanda dos consumidores caiu 1,5% ante janeiro e março deste ano. Será a primeira vez desde o fim de 2002 que haverá sequência de quedas no consumo das famílias.
“Você tem a redução do poder de compra das famílias com inflação e desemprego juntos. Antes, o consumo de serviços segurava um pouco, mas agora passam a cair também”, explica o economista Claudio Considera, que já chefiou a Coordenação de Contas Nacionais do IBGE e hoje é pesquisador associado do Ibre/FGV, onde é responsável pelo Monitor do PIB.
Dados desagregados pelo especialista mostram que os bens de consumo duráveis (como automóveis, móveis e eletrodomésticos) são os que mais sofrem. O consumo desses produtos caiu 8,5% em 12 meses até junho, segundo o Monitor. Uma queda nessa magnitude só foi vista em 2003. Os bens semi e não duráveis, por serem mais essenciais, são menos afetados, mas sua demanda também está em desaceleração desde 2013. O IBGE não apresenta essas informações de forma avulsa.
A Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), como os investimentos são medidos no PIB, teve queda de 7,3% no segundo trimestre em relação ao primeiro, estima o Ibre/FGV. As importações devem ter baixa de igual magnitude. Os únicos componentes da demanda que registraram resultados positivos neste confronto são as exportações, fruto do dólar desvalorizado (o que torna nossos produtos mais baratos no exterior) e o consumo do governo.
“Temos um ambiente político desfavorável, o desemprego aumentando. Os elementos são todos indicativos de redução da demanda agregada”, diz Considera.
Pela ótica da produção, o mau desempenho é espalhado entre as atividades. No segundo trimestre em relação ao primeiro, a agropecuária registrou queda de 2,7%, enquanto a indústria encolheu 4,3% e os serviços tiveram baixa de 0,9%.
Na indústria, todos os segmentos ficaram no negativo, até mesmo o setor extrativo, que aparecia como exceção ao mau momento da atividade. O recuo mais intenso, porém, segue sendo da construção.
Em relação ao segundo trimestre de 2015, o PIB deve ter encolhido 2,5% entre abril e junho deste ano. Se confirmado, o resultado também será o pior desde o início de 2009. Os dados utilizados na estimativa são referentes à totalidade das informações de abril e maio e 70% dos resultados para junho.