Economia encolhendo, desemprego em alta, inflação e dificuldade do governo para aprovar medidas de ajuste no Congresso. O quadro, bastante atual, após a economia encolher 3,8% no ano passado, foi visto também em 1990. Assim como 2015, aquele ano começou com um governo novo diante do desafio de fazer ajustes e terminou com empresários e economistas surpreendidos com um recuo de 4,3% no Produto Interno Bruto (PIB).
A diferença, segundo economistas ouvidos pelo jornal O Estado de S. Paulo, é que o funcionamento da economia, dominada pela hiperinflação em 1990, não podia ser considerado “normal”. E as esperanças com o novo governo, o primeiro eleito pelo voto desde os anos 60, foram atropeladas pela perplexidade com o confisco da poupança, anunciada no dia seguinte à posse de Fernando Collor, em março de 1990.
“Em 1990, a recessão foi efeito direto do choque do Plano Collor. O confisco foi a maior violência e intervenção estatal da história do País”, disse à reportagem o ex-ministro Maílson da Nóbrega, titular da Fazenda que entregou o comando da economia a Zélia Cardoso de Mello, ministra de Collor.
Para Claudio Considera, coordenador de Contas Nacionais do IBGE de 1986 a 1993, o confisco foi uma “anormalidade”. “O Plano Collor deixou o País sem renda. As famílias não podiam gastar, e as empresas não tinham dinheiro para investir”, afirmou o economista, hoje pesquisador associado à Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Tanto Maílson quanto Considera concordam no diagnóstico sobre a recessão atual: foi provocada por erros sucessivos na condução da política econômica nos últimos anos, que foram prejudicando o ritmo da economia de forma paulatina.
A atual recessão está cada vez mais parecida, em duração e intensidade, com a da virada da década de 80 para a de 90, embora a inflação pressionada de 10,67% do ano passado não possa ser comparada à hiperinflação de 1.600% de 1990.
O Plano Collor, definido pelo jornal O Estado de S. Paulo como o “programa econômico mais ousado da história do País” na edição de 17 de março de 1990, surpreendeu a todos com o confisco e começaria a falhar poucos meses depois de anunciado. A inflação voltaria, e o efeito recessivo do enxugamento da demanda se aprofundaria mais e mais.
“O confisco gerou a paralisia do consumo e do investimento e uma queda brutal da confiança, porque cedo se percebeu que o plano iria fracassar”, lembrou Maílson, hoje consultor.
Além do confisco das poupanças e de complexas regras de reajuste de preços e salários, o Plano Collor propunha fortíssimo ajuste fiscal, com demissões de servidores, privatização de estatais, aumento de impostos e abertura comercial. Ao fim do ano, pouca coisa tinha saído do papel.
Na visão de Luiz Carlos Prado, professor de história da economia na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a recessão atual deve-se a uma conjunção de fatores políticos, econômicos e internacionais e, por isso, “é difícil antever como vai ser a recuperação”.
Prado lembrou que, no início dos anos 90, a economia só se recuperou com o fim do governo Collor. Maílson acha que a saída, agora, poderá ser mais difícil. “Hoje, a situação é mais grave, porque o potencial de crescimento é menor, a queda na confiança é maior e os desajustes são maiores, mesmo sem a hiperinflação”, disse Maílson, lançando dúvidas sobre a possibilidade de uma saída política no curto prazo, como ocorreu no governo Itamar Franco. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.