O recuo 0,27% no Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M) de agosto deve ser a última deflação mensal no indicador da sequência de variação negativa iniciada em maio. É o que o espera o superintendente adjunto de inflação do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas, Salomão Quadros. De acordo com o economista, isso acontecerá porque os diferentes fatores que causaram as deflações nos quatro últimos meses já estão desaparecendo.
Quadros explica que as variações negativas em maio, junho, julho e agosto foram causadas por diferentes motivos, que foram se sucedendo mês a mês. Em maio, por exemplo, ele lembra que a deflação foi resultado de uma compensação dos choques agrícolas do início do ano, aliada aos efeitos da valorização cambial. Já em junho, a queda foi influenciada pela confirmação das evidências de super safra nos Estados Unidos, o que trouxe a desaceleração do preço das commodities.
Em julho e agosto, o superintendente afirma que a deflação foi causada pelas notícias de excelente resultado da agricultura americana. Ele cita que, nesse período, os mercados absorveram dados relatórios da USDA mostrando que a área plantada e a produtividade eram recordes. “Tudo isso acabou. Todos os efeitos da estiagem já foram absorvidos, os efeitos da super safra já estão se esgotando, o câmbio não está mais se valorizando tanto”, afirmou.
Salomão pondera que a desaceleração da economia brasileira nos últimos meses não teve reflexo no resultado do IGP-M, nem deverá ter nos próximos meses. Isso porque, segundo ele, o indicador é influenciado por movimentos causados por fatores como choques agrícolas ou pelo câmbio. “Se tiver algum efeito, vai ser de maneira muito indireta”, afirmou, ponderando em seguida: “A não ser que seja uma desaceleração muito mais forte (da economia), mas mesmo assim o efeito final não seria tão grande”.
O superintendente acredita que já em setembro o IGP-M virá positivo. Sem dar uma projeção exata, ele afirmou apenas que o indicador deve vir muito menor do que o resultado de setembro do ano passado, quando registrou +1,5%, reflexo de um choque de preços. “Precisaria ter um choque para vários produtos ou para alguns daqueles com muita importância, como a soja, para que o indicador viesse alto assim, mas a essa altura já é quase impossível”, disse.
Ele espera que, em outubro, o IGP-M deverá novamente vir positivo. Já para a taxa acumulado de 12 meses, que até agosto estava em 4,89%, Quadros afirma que deverá continuar em queda por até dois meses. Em entrevista para comentar os resultados do indicador de agosto, ele lembrou que a sequência mensal de quedas do IGP-M foi a maior desde 2009, quando houve deflação de março a agosto daquele ano. Naquele período, o indicador acumulado foi de recuo de 1,84%, enquanto de maio a agosto deste ano, o acumulado é de 1,74%.