O corte de 99.694 empregos em janeiro, segundo números do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), apesar de ter vindo abaixo das expectativas do mercado, não altera o quadro de enfraquecimento do mercado de trabalho na avaliação do economista-chefe da SulAmérica Investimentos, Newton Camargo Rosa. “O dado vir melhor que o esperado não significa muita coisa. Na realidade, este é um dos piores janeiros desde 2009”, disse, em referência ao período após o estouro da crise financeira global, em setembro de 2008. Segundo o AE Projeções, a mediana das expectativas do mercado era de corte de 141 mil vagas formais.
Em janeiro, o comércio eliminou 67.750 empregos e os serviços, 17.159, liderando os cortes. Indústria e construção civil aparecem em seguida, com 16.553 e 2.588, respectivamente. Para Camargo Rosa, este é um claro sinal de que o ajuste no emprego feito na indústria pode estar chegando ao fim. “A indústria saiu na frente nas demissões e já não tem muito mais onde cortar. Por outro lado, o comércio e os serviços ainda têm alguma gordura e estão sentindo os impactos da recessão econômica”, afirmou.
Pelos cálculos do especialista, se a tendência dos últimos meses se mantiver, o Brasil perderá 1,9 milhão de empregos formais neste ano. “Não vejo nada no quadro econômico que possa trazer alguma sinal de alívio para o mercado de trabalho”, afirmou o economista-chefe da SulAmérica Investimentos. Em 2015, as demissões totalizaram 1,542 milhão.
Barclays
Segundo o banco britânico Barclays, sazonalmente ajustado o Caged de janeiro significa a eliminação de 129.235 postos de trabalho, ante o número também ajustado de 154 mil em dezembro. “No geral, o resultado de janeiro parece marginalmente melhor, entretanto, se a eliminação de vagas continuar nesse ritmo, chegará a 1,5 milhão este ano, após o recorde de 1,6 milhão de 2015”, diz o banco em relatório, assinado pelo economista Bruno Rovai.
Segundo o Barclays, o forte nível de fechamento de vagas reforça a visão de contínua deterioração no mercado de trabalho, o que vai pressionar o consumo das famílias de novo este ano, sendo um dos principais fatores para a recessão prevista para 2016. “Os números marginalmente melhores em janeiro não nos deixam otimistas sobre uma recuperação no Brasil, mas reforçam nossa visão de que a recessão este ano pode ser levemente mais contida do que em 2015”, afirma o texto.