Condenado a 12 anos e dez meses de prisão por lavagem de dinheiro e associação ao tráfico de drogas, Edinho passa boa parte do tempo na quadra poliesportiva da penitenciária Dr. José Augusto César Salgado, de Tremembé, no interior paulista. É a famosa P-II. O filho de Pelé joga futebol e gosta de orientar as equipes como treinador, realizando o que fazia quando estava em liberdade. Ele também se mantém no prumo com as visitas da mulher Jessica e os grupos de oração. Pessoas próximas o definem como cara “espiritualizado”.
Quando o regulamento da instituição permite, mais ou menos uma hora por dia, Edinho está na quadra de cimento, aberta todos os dias. Com a bola, o herdeiro do Rei volta ao passado, bem antes de ser preso. Quando joga no gol, ele se lembra da carreira no Santos. Titular, foi vice-campeão brasileiro em 1995, com o empate naquele jogo do gol impedido de Túlio na final do Pacaembu. Edinho cavouca as lembranças ao orientar os times da P-II e tentar imprimir um fiapo de organização tática à pelada da cadeia. Ele era técnico antes de ser preso, com passagens por Mogi Mirim e Água Santa. Na prisão, tudo é informal. Edinho dá dicas de esquemas táticos e ajuda na preparação física dos detentos. O filho de Pelé tem prestígio com os amigos.
O Estado foi conferir seu trabalho em janeiro do ano passado em Três Corações (MG). Ele treinava o Tricordiano, time em que seu avô, Dondinho, foi ídolo nos anos 1930 e 1940, na cidade em que Pelé havia nascido. Entusiasmado, Edinho falava em reviver a memória do avô, mas a coincidência histórica durou pouco. Pouquíssimo. Ele foi demitido após dois jogos. Agora, faz planos de retomar a carreira quando sair da prisão.
Em Tremembé, todos sabem que ele é filho de Pelé, mas isso não faz diferença em sua rotina na tranca. Ele tem de se levantar às 5h45 como todos – o colchão finíssimo também não ajuda a dormir bem. “Caminha dura, dura caminhada,” como ensina Gilberto Gil. Os agentes penitenciários contam preso por preso três vezes ao dia. A primeira refeição tem pão com manteiga e café; o almoço mais comum oferece arroz, feijão, bife à rolê, rúcula e tomate. Banana e laranja compõem o cardápio diário.
Comparada às outras 86 penitenciárias do Estado, as condições até que são boas. Cabem na P-II 408 presos, mas a população atual é de 344. Portanto, não está superlotada. Edinho divide a cela com outros seis. Por questões de segurança, a secretaria de Administração Penitenciária não informa quem são seus colegas nem a localização do cômodo, de 8m a 15m.
O detento pode ir à biblioteca, ver filmes com comentários, fazer artesanato e teatro ou participar de cursos profissionalizantes e de ensino regular. Edinho gosta de estudar em Tremembé. Ele está na fila para trabalhar também, pois as vagas são por ordem de ingresso na prisão. As atividades são limpeza, distribuição de cartas, manutenção e cozinha. Há atividades remuneradas, prestadas às empresas dentro da P-II, como reformar carteiras. Trabalhar significa reduzir a pena.
Na igreja ecumênica são realizadas missas católicas e cultos evangélicos. Edinho participa de grupos de oração – esse é outro pilar do ex-atleta de 47 pontos para se sustentar na prisão. Já são oito meses, contados hora após hora. As visitas dos familiares são importantes – a mulher, Jessica, sempre visita o marido. “No sistema carcerário, a pessoa tende a ficar emocionalmente abalada, mas o Edinho é um cara espiritualizado. Ele está razoavelmente bem”, diz o advogado Eugênio Malavasi, que o vê uma vez a cada 15 dias. A secretaria informa que Edinho tem bom comportamento.
Pelé não retornou os pedidos de entrevista para falar sobre o filho. Em declarações anteriores, disse que o visita com frequência. Edinho está preocupado com a saúde do pai, que passou a usar um andador. Edson Cholbi do Nascimento é filho de Rosimeri Cholbi, a primeira mulher de Pelé. Edinho tem 11 tatuagens e uma só homenageia a família: Rose.