Especial

Edson Trevisan fecha a oficina mecânica e vai pescar

Edson Trevisan se cansou - fechou a oficina e foi pescar. A oficina em questão era herdeira de uma das pioneiras de Guarulhos

 que o pai dele, Durvalino Trevisan, o Nego, fundou em 1948. Nego consertava os carrões importados que antecederam os da indústria nacional. Aqueles mesmos Buick, Impala (da GM), Ford, Oldsmobille que apareciam nos filmes de Hollywood.

Quando Edson encarou as ferramentas, na oficina do pai, para pagar a faculdade, já estavam nas ruas os Volkswagen (Fusca, Zé do Caixão), Opala, Simca fabricados no País. Em 1986, formado em engenharia operacional mecânica, resolveu livrar-se do trabalho burocrático de seu emprego na Philco. Abriu sua própria oficina.

Ficava na rua Brás Cubas, paralela à avenida Paulo Faccini. Mais tarde construiu uma oficina nova, ao lado daquela. Foi essa que fechou, em 1º de março. A soma dos anos em que a oficina de Nego e a de Edson existiram chega a 62.

Por quê fechou? Faltam mecânicos preparados, nesta época de constantes inovações tecnológicas. O dono da oficina Investe no mecânico, paga curso em hotel, e quando ele está capacitado vai embora. São suas queixas. "Desde outubro do ano passado eu precisava de cinco bons mecânicos e não conseguia", diz. A oficina tinha uma carteira de 4 mil clientes.

Sempre que podia, Edson escapava para uma pescaria. Perdeu as vezes em que esteve no Pantanal. Pescou em rios amazônicos, entre outros. Agora, depostas as ferramentas, livre, pegou o caniço e um voo para o Panamá. Foi parar na Ilha de Coiba, no Oceano Pacífico, paraíso que tem 75% de sua área coberta por floresta.

Nas águas serenas que envolvem a ilha, acontece um fenômeno chamado Fritadeira. Os golfinhos vão atrás dos atuns, estes perseguem as sardinhas, as aves miram os peixes pequenos, que, com todo esse movimento, "borbulham" na água. E os pescadores aproveitam a festa para pescar belos atuns.

O peixe da foto é um pintado de 50 quilos, que Edson pescou no trecho argentino do Rio Paraguai, há três anos. Foi uma hora de trabalho para tira-lo da água. Para onde, depois da foto, foi devolvido.

 

 

Na oficina vazia, com placa de "aluga-se", Edson lembrou que a primeira oficina de seu pai ficava na esquina da rua João Gonçalves com avenida D. Pedro II – no coração da cidade. Em frente a um posto de gasolina Gulf. Depois mudou para Monteiro Lobato com Luiz Faccini. A oficina fazia fundos com a casa da família.

"Eu pulava o muro e já estava na oficina", recorda Edson. "Ficava brincando com os parafusos e me sujando de graxa." Tinha seis, sete anos. Em frente à oficina havia uma marcenaria. O dono, amigo do pai, atendia as exigências do menino. E ele saía de lá com peças de madeira na medida para montar seu carrinho de rolimã.

A oficina de Nego tinha atendimento completo. Mecânica, elétrica, funilaria, pintura, tapeçaria. As peças que apresentavam defeito eram recuperadas. As novas, importadas, custavam muito caro. Aos doze anos, Edson já fazia alguns serviços. Trabalhou na oficina até os dezoito, e mais tarde por mais três anos.

Em 1976, surgiu o Fiat 147, com muitas novidades. O tambor de freio era bem menor do que o dos outros carros. A suspensão, "mais esbelta", tinha um número menor de componentes. A chegada da computação e dos testes em laboratório tornariam os carros muito mais leves. "Eliminaram peso, e eles ganharam mais força, mais velocidade, e menos consumo de combustível."

Os plásticos de alta resistência entraram até na tubulação dos coletores de água do motor. A ignição eletrônica aposentou o platinado e o condensador. Enquanto o motorista dirige, uma central eletrônica comanda o funcionamento do motor. Edson e seus mecânicos tiveram que assistir a palestras e vídeos, estudar, para acompanhar a evolução, que não para – a cada pouco há novidades. Mas existem mecânicos, diz Edson, "que ficam parados no tempo, não querem se capacitar".

Edson está com 57 anos. Seu filho, Felipe, formou-se engenheiro naval, trabalha e faz mestrado em Massachusetts, nos Estados Unidos. A filha, Giulianne, formada em fisioterapia e educação física, cursa pós-graduação em terapia do Esporte. E a mulher, Cristina, aposentou-se do funcionalismo público.

Edson, na verdade, não parou. Como engenheiro, e com sua experiência, começou a fazer laudos periciais. Se um carro apresenta defeito, e o dono entra na Justiça, para exigir indenização do fabricante, o laudo vai demonstrar o que aconteceu.

Posso ajudar?