Quando a reportagem chegou à residência do senador Eduardo Suplicy, em São Paulo, na manhã de sexta-feira, dia 4, ele ligava para os filiados do PT em busca de apoio à sua pré-candidatura a prefeito – disse que tinha o apoio de, pelo menos, 1.000 petistas. Ele teria até o domingo, dia 6, para coletar 3.181 assinaturas e assim se credenciar às prévias do partido.
No domingo, Suplicy desistiu de disputar as prévias e declarou apoio ao ministro da Educação, Fernando Haddad, o preferido do ex-presidente Lula e da presidente Dilma Rousseff. Um dos motivos que o levou a apoiar Haddad teria sido o fato de o ministro ter se comprometido a incorporar em seu programa de governo a renda básica de cidadania, lei de sua autoria que é considerada a "menina de seus olhos".
Suplicy fez questão de dizer que está rezando pela recuperação de Lula, que descobriu, dias atrás, um câncer na laringe. Afirmou não ter dúvidas que, em breve, o ex-presidente retornará ao cenário político e não quis entrar em polêmica ao falar sobre Haddad, como o preferido de Lula, sobre as quedas dos ministros de Dilma e sobre José Dirceu e Antonio Palocci, nomes que provocaram as maiores crises já enfrentadas pelo PT em 31 anos de história.
Durante a entrevista, Suplicy – que está com 70 anos – falou sobre juventude, aposentadoria, filhos e muito, mas muito mesmo, sobre a Renda Básica de Cidadania.
A senadora Marta abriu mão de sua pré-candidatura há pouco mais de uma semana, alegando ter acatado um pedido de Lula e de Dilma Rousseff. A decisão reflete fidelidade ou submissão?
SUPLICY – Ela foi sensível ao apelo pessoal que ambos fizeram, onde destacaram a sua importância no Senado. Embora Marta tenha participado das caravanas com tanto entusiasmo, onde ela disse o quanto ama o trabalho de ser prefeita de São Paulo, atendeu ao pedido.
Inegavelmente, o senhor tem muito mais história no PT que o ministro Fernando Haddad. Por que o senhor não é o candidato de Lula e de Dilma?
SUPLICY – É fato que de todos os nomes do PT, nesses 31 anos e nove meses, aquela pessoa que maior proporção de votos teve em todas as eleições até hoje fui eu, quando fui eleito em 2006 para o Senado com 8.896.803 votos, que corresponderam a 48% dos votos no Estado.
Mas por que o senhor não é o candidato de Lula e de Dilma?
SUPLICY – O Fernando Haddad constitui um excelente economista, uma excelente pessoa, tenho o maior carinho e respeito por ele. Se ele foi o escolhido eu me comprometo a batalhar com todas as forças por ele.
Chegou o momento do PT reconquistar a prefeitura de São Paulo?
SUPLICY – Principalmente depois das caravanas zonais que começaram em agosto e foram concluídas este mês, o PT pode reunir toda sua militância e foi algo muito positivo. O partido tem tudo [para reconquistar a prefeitura].
O senhor nunca analisou que, na prefeitura, as negociações e articulações comuns no cargo não poderiam "queimar" o respeito pelo seu nome?
SUPLICY – Gostaria de adotar um procedimento segundo o qual eu direi aos parlamentares de todos os partidos: "votem sempre de acordo com a sua consciência, do que é melhor para o município, e nunca em função de possíveis indicações que tenham feito ao Poder Executivo para nomeações ou em função de emendas que tenham sido aprovadas, ou de quaisquer solicitações". Eu nunca fiz indicações de pessoas ao Executivo, seja quando eu estive na oposição e, agora, na base do governo, e nunca condicionei meu voto a qualquer aprovação e liberação de verbas para emendas que eu tivesse apresentado.
É mais fácil ser um político da oposição ou da base?
SUPLICY – Os dois são trabalhos muito relevantes. Na oposição você está muito atento para qualquer desvio de procedimentos e daí tem que exercer com muita intensidade o seu poder constitucional, não apenas de propor soluções, mas de fiscalizar os atos do Executivo. Quando se está na base, se tem uma atitude mais de diálogo e de construção com o governo.
O senhor é considerado uma das reservas éticas, mas já abriu mão de princípios como na eleição de José Sarney para a presidência do Senado.
SUPLICY – Quando houve um problema com o Sarney, eu disse muito francamente a ele e ao partido, que era favorável que ele pudesse pedir licença da presidência para dar explicações ao Conselho de Ética e exercer o seu direito de defesa, e ele preferiu não fazê-lo. Foi naquela ocasião que apresentei o cartão vermelho a Sarney.
Em sua vida política já houve alguma grande decepção? Ou teme que ela possa acontecer daqui pra frente?
SUPLICY – Eu me empenho muito para que as coisas, nas quais acredito, aconteçam. Eu sou autor de uma lei aprovada pelo Congresso Nacional que considero de grande relevância que é a instituição da Renda Básica de Cidadania, o direito de toda e qualquer pessoa de partilhar a riqueza da Nação através de uma renda que, na medida do possível, a ninguém será negada. Agora, eu tenho a convicção de que isso vai acontecer, então eu espero que isso ocorra durante a minha vida. Só ficaria muito decepcionado se isso não acontecesse.
Já passou pela sua cabeça de se aposentar politicamente?
SUPLICY – (Silêncio, seguido depois de risos) Enquanto eu tiver saúde, disposição e energia, posso continuar.
A juventude aos 70 anos é mais gostosa que aos 20?
SUPLICY – Feliz é a pessoa que pode estar com boa saúde até o máximo possível. Hoje, em especial, estou torcendo para que o Lula possa logo superar essa doença que o acometeu. Estou rezando para ele.
Lula volta ao cenário político?
SUPLICY – Não há dúvidas. É natural que ele se empenhe para aprovar a reeleição da presidente Dilma em 2014, e a partir daí o que vai acontecer só Deus sabe.
O PT precisa de homens como José Dirceu e Antonio Palocci?
SUPLICY – São pessoas que têm muitas qualidades. Aconteceram problemas com ambos, mas eles ainda vão ajudar o PT, e muito.