Estadão

Efeitos de atual ciclo da Selic serão vistos ao longo de 2022, diz diretora do BC

A diretora de Assuntos Internacionais e de Gestão de Riscos Corporativos do Banco Central, Fernanda Guardado, disse nesta quinta-feira que os efeitos do atual ciclo de alta da Selic serão sentidos pela economia ao longo do próximo ano. Desde março, o BC já elevou a taxa de básica de juros em seis ocasiões, partido de 2,00% ao ano para os atuais 7,75% ao ano.

"Eu tendo a concordar que o grosso do impacto do atual processo se dará em meados de 2022. No primeiro semestre e ao longo de 2022 vamos começar a ver os impactos mais fortes", afirmou Fernanda, em participação no Itaú Macro Vision 2021.

Ela lembrou que alguns canais reagem mais rapidamente às decisões do Comitê de Política Monetária (Copom), como os financiamentos imobiliários e mudanças na alocação de investimentos. "Mas boa parte dos impactos de todo esse aperto que fizemos desde março e que sinalizamos para dezembro vai ocorrer ao longo de 2022 e em 2023, em parte", acrescentou.

Fernanda Guardado concordou ainda com a avaliação de que a política monetária parece ser mais robusta hoje do que foi no passado, devido até mesmo ao maior aprofundamento financeiro da economia brasileira.

<b>Retirada de estímulos</b>

A diretora de Assuntos Internacionais e de Gestão de Riscos Corporativos do Banco Central destacou também que os países avançados já começam a retirar estímulos, em função da aceleração rápida da inflação. Citou o anúncio do <i>tapering</i> do Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA), que começa neste mês, assim como movimentações no Canadá e na Noruega.

Segundo a diretora do BC, a inflação nos países avançados reflete os custos industriais em alta. Guardado destacou o aumento do consumo de bens no mundo e avaliou que a oferta de energia também não tem respondido à demanda na mesma velocidade.

Ela citou alta de preços de carvão, gás natural e petróleo. "A produção de petróleo cru está próximo de antes da pandemia. Mas a produção do petróleo não teve capacidade de reagir na velocidade da demanda."

<b>Depreciação cambial</b>

A diretora do Banco Central voltou a destacar que o comportamento do câmbio não tem andado junto com o aumento dos termos de troca, ficando mais depreciado do que indicariam esses fundamentos. Mas ela avaliou que essa falta de correlação pode diminuir com a normalização da política monetária. "Depreciação do câmbio não foi a tradicional, há quebra na relação com termos de troca em vários lugares", disse, citando que o fenômeno ocorreu em outros exportadores de commodities.

Segundo a diretora do BC, uma das hipóteses para essa descorrelação seria a deterioração fiscal com a pandemia de covid-19 em vários países. Mas ponderou que há outras teses e que não "saberia escolher uma única hipótese para entender o câmbio de países exportadores de commodities".

Fernanda Guardado afirmou, contudo, que isso não altera o modus operandi do BC no mercado de câmbio. "Não mudamos a maneira de atuar no mercado de câmbio. Só atuamos em cenários de fluxo que não consegue ser digerido por mercado, ou quando há disfuncionalidade."

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