O Egito tenta intermediar um amplo acordo de cessar-fogo entre Israel e líderes do Hamas em Gaza, disseram representantes do grupo militante nesta quinta-feira, 2. O objetivo é abrir caminho para a reconstrução da região e uma eventual troca de prisioneiros.
Os vários acordos de cessar-fogo entre as duas partes ao longo dos anos fracassaram, mas sinais recentemente sugerem uma nova tentativa de negociação, semanas depois da escalada de violência na fronteira entre Gaza e Israel. O primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, decidiu adiar uma viagem à África do Sul para acompanhar a situação, disse uma autoridade do governo, falando sob a condição de anonimato.
Além disso, uma delegação de alto escalão do Hamas planejava entrar em Gaza ainda nesta quinta-feira, depois de reuniões no Cairo, segundo o Centro Palestino de Informação, site ligado ao grupo. A maioria das lideranças do Hamas ficam em Gaza e se reuniriam com membros exilados de seu departamento político, incluindo Saleh Arouri, um dos fundadores da ala militar na Cisjordânia e mentor de ataques contra israelenses no passado.
“Permitir que uma delegação deste nível chegue até Gaza é um sinal claro de que há, antes de tudo, garantias de que a delegação não será alvo dos israelenses e um sinal de que reuniões sérias ocorrerão”, disse o funcionário do grupo Bassem Naim. Ele afirmou que membros do Hamas tentariam “concluir o progresso que foi alcançado em questões como a trégua”, bem como a reconstrução de Gaza pela ONU e a possível reconciliação entre os militantes e seu rival político interno, o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas.
Segundo Naim, os líderes do Hamas também discutiriam uma possível troca de prisioneiros com Israel. Dois outros funcionários de alto escalão do grupo confirmaram os termos iniciais do acordo proposto pelo Egito. Eles falaram sob a condição de anonimato, já que não têm autorização para detalhar negociações a portas fechadas.
Não está claro qual função Abbas poderia desempenhar em Gaza, ou se tal função sequer existiria. Anteriormente, Abbas afirmou que assumiria a responsabilidade pela região novamente apenas se o Hamas concordar em entregar toda sua autoridade, incluindo no setor de segurança. O Hamas não está disposto a cumprir com as exigências.
Gaza tem enfrentado um bloqueio fronteiriço imposto por Egito e Israel depois que o Hamas tomou o território, em 2007. Nos últimos meses, o grupo tem vivido uma crise, em meio à crescente pressão financeira. Os 2 milhões de habitantes da região lidam com escassez de eletricidade, consequência do bloqueio e o aumento do desemprego e da pobreza.
Apesar dos esforços renovados para o cessar-fogo, o ministro da Defesa de Israel, Avigdor Lieberman, anunciou que a partir desta quinta serão suspensas as remessas de combustível e gás natural para Gaza. A decisão veio em resposta aos balões incendiários que atingiram o sul de Israel. Em julho, o governo israelense havia suspendido as remessas de combustível temporariamente, por motivos semelhantes.
Pipas e balões e incendiários, muitos deles lançados durante os protestos na fronteira, causaram chamas que devastaram terras agrícolas e florestas ao sul de Israel. Desde o final de março, milhares de moradores de Gaza participaram de protestos ao longo da cerca na fronteira com Israel, em tentativas de romper o bloqueio.
Nos últimos quatro meses, 155 palestinos foram mortos em Gaza pela artilharia israelense, incluindo ao menos 117 em protestos na fronteira, segundo o Ministério da Saúde Palestino e o grupo de direitos humanos Al Meza. Outras mortes, incluindo de militantes do Hamas, aconteceram em outros incidentes, como ataques aéreos. No mês passado, um soldado israelense foi morto por atiradores de Gaza.