O comandante do Batalhão de Operações Especiais (Bope) do Rio, tenente-coronel Uirá do Nascimento Ferreira, detalhou as medidas adotadas pela tropa durante o sequestro a passageiros de um ônibus na rodoviária do Rio nesta terça-feira, 12. Ele coordenou a operação de negociação com Paulo Sérgio de Lima, que manteve 16 pessoas como reféns e se entregou após três horas.
Em entrevista ao programa <i>Encontro</i>, da TV Globo, o oficial comemorou o fim do sequestro com liberação de todos os reféns e afirmou que o sequestrador estava com medo durante o crime.
"Estabelecer o primeiro contato foi o mais difícil. Ele não queria falar por telefone, estabelecemos um contato viva-voz, utilizamos um megafone, mas ele se mantinha muito fechado, muito irritado. Ele estava com bastante medo", relembrou.
O primeiro contato da tropa tática com o caso já se estabeleceu em um cenário conturbado. A ocorrência foi iniciada por volta das 15h, quando o sequestrador disparou dentro do terminal rodoviário atingindo um homem de 34 anos que permanece em estado grave no Hospital Municipal Souza Aguiar. "Nós sabíamos que a temperatura da ocorrência estava muito alta, o contato era difícil. Nossa prioridade o tempo inteiro era questão de salvaguardar vidas", disse o policial.
Para contribuir com o trabalho do Bope, o comandante explica que uma psicóloga traça o perfil dos criminosos para que a melhor estratégia possa ser aplicada à situação. Paulo Sérgio foi descrito como um criminoso comum, sem distúrbios mentais, então as negociações seguiram a partir deste princípio.
"Falávamos: você vai sair vivo, vai sair tranquilo. Todas as pessoas vão sair com a integridade física preservada e você vai seguir para uma delegacia e ser levado à Justiça" relata o comandante.
Além dos trabalhos de negociação direta com o criminoso, policiais da equipe reserva do Bope realizaram simultaneamente um treinamento em um ônibus de mesmas características do sequestrado. Nesse momento, espessura do vidro, estratégias de entrada no veículo e posicionamento dos passageiros eram avaliadas para preparação em caso de necessidade.
Apesar de não terem sido acionados, atiradores de elite também estavam posicionados, essa é uma das quatro estratégias táticas principais adotadas pelo Batalhão em situações de crise.
Somado ao trabalho da Polícia, Uirá destacou a colaboração dos reféns durante a ação. "Tenho que enaltecer o comportamento dos passageiros que estavam como reféns. Não tomaram qualquer tipo de atitude, obedeceram as ordens que estavam sendo feitas, foram muito colaborativos" afirma.
O comandante comemorou o êxito da ação que terminou com a prisão e liberação de todos os reféns e atrelou à dedicação e treinamento especializado dos agentes envolvidos no processo que culminou em um "resultado positivo para todos".
Fundado em 1978 como uma Unidade Especializada da Polícia Militar do Rio de Janeiro, o Bope completa, em 2024, 46 anos. Essa não é a primeira vez que o Batalhão comanda negociações em ônibus sequestrado. Nos anos 2000, o caso do ônibus 174, que acabou com a morte do sequestrador e de uma refém, é colocado como um divisor de águas na atuação da tropa. Segundo Uirá, nesse intervalo, cerca de 150 ocorrências do gênero já foram atendidas, em todas elas os reféns foram resgatados com vida.