Internacional

Eleição local na Espanha mostra avanço da oposição ao governo de Rajoy

Um desempenho forte de partidos iniciantes afetou o domínio dos conservadores sobre cidades e regiões pela Espanha, levantando a perspectiva de que os eleitores possam barrar a tentativa do primeiro-ministro Mariano Rajoy de se reeleger, mais adiante neste ano, e tirar do poder um dos poucos governos da Europa ainda comprometidos com o controle fiscal. A eleição geral ocorre em 10 de dezembro.

Enfatizando o descontentamento dos eleitores com a corrupção e os fortes cortes nos gastos públicos, os candidatos apoiaram a plataforma do partido de esquerda Podemos, nas eleições de domingo, quando ele recebeu a maioria dos votos em Barcelona, terminou em segundo por pouco em Madri e parecia capaz de ter a maioria no Legislativo municipal nas duas cidades, em aliança com outras siglas de esquerda.

O Partido Popular, de Rajoy, ficou com a maioria dos votos totais, nas 8.116 corridas municipais pela Espanha. A fatia de votos da sigla, porém, recuou em 10 pontos percentuais, de seus 37% quatro anos antes, quando o PP assumiu o controle de dez dos 17 governos regionais. Nesta segunda-feira, parecia garantido para manter o controle de apenas três dessas regiões.

O Partido Socialista Obrero Español (PSOE) e o PP, seu rival conservador, dominaram a política espanhola durante 33 anos. O PSOE manteve sua posição como principal força oposicionista, mas viu sua fatia no voto nacional recuar em 2 pontos percentuais, para 25%.

Os eleitores insatisfeitos optaram em números significativos pelo Podemos e por outro partido iniciante, o Ciudadanos, de centro-direita, em uma mostra da crescente fragmentação da política da Espanha. Com isso, várias disputas eleitorais devem depender da formação de coalizões, que podem demorar dias ou semanas.

Rajoy, que tirou o PSOE do poder em 2011, defendeu na campanha que tirou o país de uma recessão profunda. A mensagem, porém, teve pouco apelo, em meio à dívida do país, aos 24% de desemprego e a investigações de corrupção contra centenas de políticos. O principal porta-voz do PP, Carlos Floriano, disse que a votação do partido “não pode ser descrita como boa”.

O jornal El País fez uma projeção para a eleição geral, a partir dos padrões de votação na disputa municipal de ontem. Segundo esse cálculo, o PP de Rajoy ficaria com 120 das 350 cadeiras do Parlamento em dezembro. O PSOE ganharia 108, o Podemos, 37, o Ciudadanos levaria 18 e as demais vagas ficariam para outros partidos. Com isso, a esquerda poderia fazer uma coalizão e governar, mesmo se Rajoy ganhasse o apoio do Ciudadanos, um aliado ideológico.

As ações europeias caíram hoje, com o resultado eleitoral da Espanha pesando, em meio às preocupações com as finanças da Grécia. A Bolsa de Madri caiu 2%, com investidores dizendo-se preocupados com a perspectiva de governos de esquerda em cidades e regiões onde o investimento estrangeiro têm tido um impulso nos últimos anos.

A recessão europeia e a crise da dívida dos últimos anos ajudaram a derrubar os partidos do poder na Grécia e na Itália. A eleição grega em janeiro levou ao poder um partido esquerdista, o Syriza, que lembra o Podemos espanhol. Ambos rejeitam as medidas de austeridade defendidas por Rajoy e outros líderes da zona do euro.

Por ora, a Espanha deve ter um período de negociações tensas e de incerteza sobre o resultado de muitas disputas eleitorais. O analista Carlos Barroso, da Teneo Intelligence, disse que a política espanhola tem uma experiência relativamente pequena na formação de acordos de coalizão e que alguns partidos podem relutar em fechar alianças, temendo que isso possa prejudicar suas chances na eleição geral. Para ele, pode haver impasses em muitos lugares do país nos próximos meses.

Lideranças políticas deram poucas pistas sobre potenciais alianças nesta segunda-feira. Lideranças do Podemos e do Ciudadanos disseram que seus partidos estão abertos a acordos, dependendo do caso.

O líder do Podemos, Pablo Iglesias, disse ter poucas dúvidas de que o PSOE iria apoiar a candidata do partido à prefeitura de Madri, Manuela Carmena. Com isso, essa juíza de 71 anos, uma novata na política, pode assumir e tirar o PP desse cargo, que ele ocupava havia 26 anos.

Em Barcelona, a candidata apoiada pelo Podemos, Ada Colau, disse que tentaria formar uma coalizão de governo, ou pelo menos acordos para apoiar suas iniciativas políticas, com o PSOE e com os separatistas da Catalunha.

Na região de Madri que abrange a capital, o PP precisaria do apoio do Ciudadanos para manter o controle do governo regional. Fonte: Dow Jones Newswires.

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