A Comissão Nacional Eleitoral Independente (Inec, na sigla em inglês) da Nigéria adiou em uma semana a eleição para presidente. A decisão foi anunciada cerca de cinco horas antes da abertura das urnas, que deveria acontecer neste sábado, 16. A votação deverá acontecer no próximo dia 23.
De acordo com o chefe da comissão eleitoral, Mahmood Yakubu, a medida foi necessária para garantir eleições livres e justas no país africano. “A comissão concluiu que o processo eleitoral não poderia ser realizado na data agendada”, disse Yakubu.
O chefe da comissão não especificou quais foram os problemas que levaram ao adiamento. Recentemente, três centros da comissão foram incendiados e denúncias apontam que muitos estados do país não haviam recebido as cédulas eleitorais.
“Foram reportados os desaparecimentos de algumas folhas de resultado e cédulas. Nós queremos mapear onde está todo este material sensível e fazer um inventário do que está conosco e do que não está”, disse um membro da comissão eleitoral para a agência de notícias Reuters.
Os dois principais candidatos na corrida eleitoral são o atual presidente, Muhamadu Buhari, de 76 anos, e o líder da oposição, Atiku Abubakar, de 72, um empresário que foi vice-presidente do país entre 1999 e 2007.
Ambos os lados da disputa lamentaram o adiamento. A sigla Congresso de Progressistas, partido do presidente Buhari, se disse “muito decepcionada” com a decisão e pediu que a comissão eleitoral mantenha sua neutralidade. Enquanto isso, Atiku Abubakar pediu calma aos seus partidários ante o que considerou como uma “provocação”.
Em 2015, as eleições no país também foram adiadas e aconteceram seis dias depois da data prevista inicialmente. Naquela oportunidade, a justificativa para a medida foram ameaças do grupo jihadista Boko Haram.
Oposição questiona. Após o adiamento, o Partido Popular Democrata (PDP), do candidato de oposição Atiku Abubakar, acusou o presidente Muhammadu Buhari de estar por trás do adiamento das eleições gerais para o dia 23 de fevereiro.
“Ao instigar este adiamento, o governo de Buhari espera privar o eleitorado de seus direitos com a finalidade de assegurar baixa participação na nova data”, denunciou o candidato a presidência. “Conscientes de que o povo nigeriano está determinado a rejeitá-los, eles estão desesperados e farão tudo ao seu alcance para negar esta rejeição”, enfatizou.
Apesar de chamar o adiamento de “inaceitável”, Atiku pediu para que seus seguidores não caiam em provocações e preservem a paz, enfatizando que, se eles “foram capazes de tolerar quatro anos de má administração, poderão aguentar mais alguns dias”.
“Não reaja a esta provocação com raiva, violência ou qualquer ação que possa ser explorada por quem não quer realizar esta eleição”, insistiu o candidato. “Mantendo a calma, nós vamos superar isso. Pode-se adiar uma eleição, mas não pode-se adiar o destino”, concluiu.
Eleições acirradas
Cerca de 84 milhões de eleitores estão inscritos para votar nestas eleições na Nigéria. O país é a maior potência petroleira da África e também o mais populoso do continente, com 190 milhões de habitantes.
A campanha presidencial foi marcada pela morte de 15 pessoas na última terça-feira, 12, após um tumulto durante um comício de Buhari. No último sábado, o presidente realizou seu maior principal evento de campanha em Lagos, o centro econômico do país.
O partido de Abubakar também pretendia fazer um grande comício no mesmo dia, mas teve de cancelar o evento após uma proibição para o acesso ao local planejado para o ato. O opositor chegou a acusar o Buhari de envolvimento no caso, o que é negado pelo partido do presidente.
A Nigéria mergulhou em uma recessão econômica entre 2016 e 2017, logo depois que Buhari chegou ao poder, e hoje enfrenta dificuldades recuperar seu crescimento. Atualmente, o país registra o maior número de pessoas vivendo abaixo do limiar da extrema pobreza (87 milhões) no mundo, à frente da Índia, de acordo com o World Poverty Clock.
O tema economia dominou a maior parte da campanha e o oponente Abubakar prometeu em seu lema que “Faça a Nigéria trabalhar de novo”, ou, em inglês “Make Nigeria work again”, em cima do slongan “Make America great again”, do presidente americano Donald Trump.
O ex-vice-presidente defende uma política liberal para tirar o país da atual estagnação econômica.
Por outro lado, Buhari sustenta uma política mais intervencionista e ganhou votos com sua medida “Trader Moni”, um sistema de microcrédito de 24 a 75 euros (27 a 85 dólares) para dois milhões de pequenos empreendedores.