O eleitorado brasileiro está passando aos candidatos à Presidência dois recados claros: ele quer crescimento, mas sem deixar de ampliar a inclusão social. “O candidato que convencer o eleitor de que consegue estabilizar a atual crise (econômica) numa via de maior inclusão e maior aumento do mercado de trabalho será provavelmente o que receberá maior apoio”, avalia o cientista político Leonardo Avritzer, da Universidade Federal de Minas Gerais e presidente da Associação Brasileira de Cientistas Políticos (ABCP).
Sua avaliação constitui um desafio aos três principais candidatos ao Planalto. A presidente Dilma Rousseff (PT) valorizou a inclusão, mas a economia patina na sua gestão. Aécio Neves (PSDB) promete ajustes na economia, mas há quem tema seus efeitos nas políticas sociais. Eduardo Campos (PSB) procura agregar as duas vertentes, mas não vinga como “terceira via”.
Esse cenário eleitoral, o impacto da economia nas urnas e a agenda social são temas do 9.º Congresso Nacional de Cientistas Políticos, promovido desta segunda-feira, 04, até quinta-feira, em Brasília, pela ABCP. O evento vai reunir 1.100 pessoas em mais de 800 palestras e debates.
Ao jornal “O Estado de S. Paulo”, Avritzer fez um cruzamento dos temas da campanha com os do evento, que terá estudiosos de Argentina, Chile e EUA, entre outros. Leia os principais trechos da entrevista.
A temperatura da campanha
“A temperatura está quente e assim vai se manter até o fim da disputa. Por um lado, o PT tem 12 anos no poder, e isso conta. Mas não estou convencido ainda de que a oposição tenha um programa muito claro para mudar. Aécio Neves (PSDB) tem um enorme desafio, que é conquistar o eleitorado paulista.”
O debate econômico
“Na economia, vejo duas situações. Uma delas é a do emprego e da capacidade de consumo da população, que está relativamente estável. A outra é a performance da economia em si, que tem sido questionada pelo mercado financeiro e pelo grande empresariado. Nessa intercessão se dará boa parte da disputa. Minha impressão é que o eleitor quer crescimento de modo estável, mas dentro de uma via fortemente inclusiva. Quem convencer o eleitor de que consegue estabilizar a crise numa via de maior inclusão e aumento do mercado de trabalho, provavelmente receberá o maior apoio.”
Alianças políticas
“A qualidade da representação é um problema crucial, mas o País não vai sair do presidencialismo de coalizão. Quem vencer vai ter de se compor, ou tentar uma reforma política. Se Dilma se reeleger e contar com uma bancada maior do PT no Congresso, o custo dessa coalizão tende a ser menor. No caso de vitória de Aécio, o PSDB começa menor e terá de negociar mais.”
Redes sociais
“Até 2010 as redes sociais influenciaram muito pouco. Mas a expansão dessas mídias no Brasil tem sido significativa. Acho que todos os candidatos são hoje vulneráveis ao que circula na rede e não poderão ignorá-la.”
Os jovens e a campanha
“Nossas formas mais institucionalizadas não incorporam muito bem a população jovem. Temos pesquisas mostrando que a média de idade dos presentes nos orçamentos participativos é superior aos 40 anos. O mesmo se dá nas conferências nacionais, que envolvem mais de 6 milhões de participantes. Eram jovens, em sua maioria, os que em 2013 protestavam nas ruas. Não vejo nas campanhas os candidatos dizendo que eles terão seu lugar.”
Impunidade
“A impunidade é um dos nossos maiores desafios. É a ideia de que, no Brasil, muita gente não paga por seus crimes. Queremos ver qual o peso que essa questão vai ter na campanha.”
Acerto com o passado
“Nossa democracia obteve grandes avanços mas ainda não descobriu uma forma democrática, dentro das regras do jogo, de acertar contas com o passado. É outro tema essencial.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.