No primeiro debate do segundo turno das eleições municipais de São Paulo, Guilherme Boulos (PSOL) adotou a estratégia de associar o candidato do PSDB, Bruno Covas, à imagem do governador João Doria (PSDB), questionando o prefeito sobre a ausência do aliado em sua campanha. O tucano, que evitou falar sobre Doria durante todo o debate, disse que a eleição é para prefeito de São Paulo, e não "de qual padrinho importa mais".
Durante o encontro promovido pela CNN Brasil na noite desta segunda-feira, 16, Covas se restringiu a declarar que tem o apoio de Doria e que a ação conjunta entre Estado e município tem beneficiado a população. Mas não voltou a citar o nome aliado, de quem foi vice em 2016. "A população quer comparar o currículo de cada um dos candidatos, a história, o que fizeram pela cidade", defendeu o prefeito, que depois desviou o tema da pergunta.
Boulos, por sua vez, fez questão insistir na relação entre Covas e Doria, mas deixou de responder uma pergunta sobre o apoio que recebe do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Acho que você não pode esconder a sua origem política, como você veio parar no cargo que está hoje", disse o candidato do PSOL a Covas.
Já nos primeiros minutos do debate, o atual prefeito repetiu o tom do discurso feito no domingo, 15, quando afirmou que a esperança iria vencer os "radicais". "O radicalismo ideológico sabe criticar, mas não sabe como reduzir crimes na cidade de São Paulo."
Boulos vinculou o discurso do tucano a uma busca pelo voto bolsonarista no segundo turno. "Lamento muito que você tenha entrado em um vale-tudo para ganhar a eleição. Para querer ter o voto no segundo turno de pessoas mais simpáticas ao Jair Bolsonaro, você tenta ser aquilo que você não foi até aqui. Querer criminalizar o movimento social, falar em radicalismo."
O encontro entre os dois nomes que disputam a Prefeitura de São Paulo ocorre um dia após o primeiro turno das eleições municipais, em que Covas teve 32,85% dos votos válidos, contra 20,24% do adversário.
Em mais de uma ocasião, o prefeito Bruno Covas falou sobre a falta de "experiência" do candidato do PSOL em gestão pública. Boulos classificou a fala do prefeito como "pouco respeitosa" e reforçou seu trabalho como líder do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST). "Tenho muito orgulho da minha experiência no movimento social nos últimos 20 anos", disse o candidato do PSOL. "Foi onde aprendi a ver a trajetória e vida das pessoas como a sua história, e não como um número ou estatística que um secretário te dá no gabinete."
Os dois candidatos ainda devem se enfrentar em outros debates promovidos pelas emissoras de TV e veículos de imprensa. O próximo encontro confirmado será na quinta-feira, 19, na emissora Band.
<b>Cracolândia</b>
Boulos questionou Covas sobre a operação da Guarda Civil Metropolitana (GCM) e da Polícia Militar na região central em setembro deste ano que acabou em tumulto. Covas afirmou que a solução da Cracolândia não é somente da área de saúde ou da assistência social, mas deve contar com a ação conjunta de várias secretarias.
O atual prefeito também disse que é necessário oferecer emprego para dependentes químicos que passam por tratamento. Ele aproveitou para criticar o programa Braços Abertos, da gestão de Fernando Haddad (PT).
Boulos apontou que o caminho para lidar com a questão é redução de danos, com base em experiências que deram certo em outras cidades, como Lisboa (Portugal) e Vancouver (Canadá). O candidato disse que a região deve contar com a presença permanente de profissionais da área de saúde mental.
<b>Saúde e covid-19</b>
Covas perguntou a Boulos sobre propostas para lidar com a saúde pública no ano que vem, diante da pandemia do novo coronavírus. Como em debates anteriores, o candidato do PSOL voltou a afirmar que, em um eventual governo, reabrirá os hospitais fechados da cidade de São Paulo. Também retomou a intenção de contratar médicos para atuar especificamente em unidades de saúde da periferia. O candidato do PSDB enumerou hospitais que foram abertos ou reabertos por sua gestão para enfrentar a covid-19.