Atualmente, Débora Falabella pode ser vista em três momentos como mãe. No filme O Filho Eterno, em cartaz nos cinemas, ela vive a jornalista Cláudia, que descobre ter dado à luz um menino com síndrome de Down e, apesar das dificuldades, ama aquele garoto de maneira incondicional. Na série Nada Será Como Antes, da Globo, que chega a seu penúltimo capítulo nesta terça, 13, é a atriz Verônica, que se assume mãe solteira e luta contra todos os preconceitos em plena década de 50 para manter o filho a seu lado. E, na vida real, Débora é mãe de Nina, de 7 anos, de seu relacionamento com o ex-marido, o músico Chuck Hipolitho.
E Débora se inspirou muito em sua maternidade real para compor Cláudia e Verônica. Em O Filho Eterno, de Paulo Machline, inspirado no livro de Cristóvão Tezza, sua personagem e o marido, o escritor Roberto (Marcos Veras), precisam lidar com uma realidade que nunca imaginavam para seu filho, mas a dificuldade de aceitação é de Roberto. “A história é um pouco diferente do livro, porque o livro fala do ponto de vista dele, das sensações e dos sentimentos dele diante daquela situação. No filme, se estendeu um pouco mais para a família”, conta Débora, à reportagem.
“Quando a gente tem um filme baseado num livro, fica procurando referências. Nesse livro, não tinha referência dela, mas fui muito em cima do roteiro e da intuição como atriz, relacionada à maternidade, que é algo que vivo e tenho vivido nos últimos trabalhos que tenho feito. Isso, para mim, é muito forte, essas questões familiares, relacionadas a filho. A gente não planeja o que acontece na vida de ator, e os trabalhos vão aparecendo, mas parece que eles vão aparecendo numa hora propícia para você”, pondera a atriz mineira, de 37 anos.
Em Nada Será Como Antes, o amor incondicional pelo filho dá forças para sua Verônica enfrentar momentos de dor e desespero. A trama, escrita por Guel Arraes, Jorge Furtado e João Falcão, com direção-geral e artística de José Luiz Villamarim, se passa na época do surgimento da TV no Brasil. Verônica é uma atriz de rádio, que se apaixona por Saulo (Murilo Benício), um visionário que, depois, funda a TV Guanabara. Verônica faz a transição para a televisão – e os dois ficam casados por anos. Após a separação, ela tem um rápido affair com um ator americano, engravida e assume o filho sozinha. Sofrendo todo tipo de represália por ser mãe solteira, ela pede para o ex-marido registrar o filho dela, e, mesmo a contragosto, ele aceita. Mas, por causa de um mal-entendido, ela vai do céu para o inferno: perde a guarda do filho para Saulo e suas visitas ficam restritas.
“O que acho legal da Verônica é que você vê uma transformação dela do início. A princípio, mostra, claro, uma menina que já tinha uma força, era à frente do seu tempo, que saiu da casa dos pais e foi para a TV, mas que vivia naquela situação glamourizada do rádio, que migra para a TV. Tinha uma relação muito vaidosa com o trabalho, ao mesmo tempo que muito séria, junto com o marido, onde tudo dava muito certo. Até que as coisas começam a ficar diferentes no lado pessoal e profissional. Ela vê que não é mais a mocinha, dá lugar a uma outra geração e ela tem de compreender isso, e as coisas também vão acontecendo na vida dela. É interessante como a personagem cresce no sentido de ficar mais forte, de ter um amadurecimento”, descreve a atriz. Não deixa de ser ainda uma homenagem a seu pai, o ator, diretor e escritor Rogério Falabella – que ainda mora em Belo Horizonte, assim como a mãe e a irmã mais velha da atriz. “Hoje em dia, ele escreve para teatro, continua dirigindo, está com 81 anos, mas, quando ele era bem jovem, em Belo Horizonte, tinha uma afiliada da TV Tupi, a TV Itacolomi, e ele começou a fazer a televisão ao vivo. Tenho essa história que sempre foi contada lá em casa.”
Casal
Foi também uma oportunidade de Débora voltar a contracenar com o namorado, o ator Murilo Benício. Os dois já haviam trabalhado juntos em O Clone, em 2001: ela como Mel, ele como Lucas, o pai da garota. Àquela época, eram apenas colegas. Em Avenida Brasil, de 2012, em que ela interpretava Nina e ele, Tufão, o casal começou a namorar. Aliás, alguma coisa muda quando o seu parceiro de cena passa de colega a companheiro? “Na verdade, não existe. Às vezes, existe uma paranoia nossa achando que vai ter algum problema. A gente fez todos esses trabalhos, adorava fazer cenas junto. E, quando isso aconteceu, a gente ficou: Será que agora vou conseguir enganar ele me conhecendo tanto; mentir falando que sou outra pessoa (risos)”, responde a atriz. “Mas pelo contrário: bastou uma cena e a gente entrou na onda. Foi uma alegria, e é uma alegria até hoje. A gente vê junto a série, comenta. É tão raro, porque, muitas vezes, nem assistimos aos nossos trabalhos, não queremos que influencie”, completa a atriz – e esses momentos de apreciar a série só são possíveis, explica ela, porque as gravações chegaram ao fim já faz meses.
Este ano, Débora, que tem uma carreira consolidada também no teatro, fechou ainda o ciclo da peça Contrações. Com seu Grupo 3 de Teatro, formado ao lado de Yara de Novaes e Gabriel Paiva, ela fez apresentações, no mês passado, pelo interior de São Paulo, em cidades onde, há 3 anos, a trupe iniciou essa jornada com ensaios abertos ao público. Eles voltaram com o espetáculo pronto, para ser mostrado novamente para aquela plateia. “Depois, a gente tinha uma conversa com o público.” Nesse retorno, as pessoas retomaram temas abordados no texto do dramaturgo inglês Mike Bartlett, como assédio moral, sob novas perspectivas.
Em 2017, Débora estará envolvida em novos trabalhos: peça de teatro, dois novos longas – um deles com direção de Murilo Benício, O Beijo no Asfalto – e a nova novela de Gloria Perez, À Flor da Pele. Mesmo assim, cheia de projetos, Débora conta que as pessoas falam até hoje de Avenida Brasil. A novela, aliás, acaba de ser lançada em DVD. Vivendo uma mocinha fora dos padrões que busca por vingança, Nina – que, por mera coincidência, tinha o mesmo nome de sua filha -, a atriz teve embates memoráveis com a vilã Carminha, de Adriana Esteves.
“Eu tinha feito outros trabalhos que também duraram um tempo. Por exemplo, em O Clone, eu fazia a Mel, e isso durou muito tempo, mesmo eu fazendo outros trabalhos. Vou para o Nordeste e as pessoas me reconhecem como Lisbela (do filme Lisbela e o Prisioneiro)”, diz ela. “Acho que isso acontece com os trabalhos que são bons: não só relacionados ao personagem e à atriz, mas a uma novela inteira ou a um trabalho inteiro. Acho ótimo ter feito histórias que geraram tanta repercussão. Espero que venham outros, sempre sendo lembrados.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.