Estadão

Em 2022 eu e Moro estaremos no mesmo campo

Logo após vencer as prévias do PSDB, o governador de São Paulo, João Doria, embarcou para uma viagem a Nova York organizada pela Investe SP para encontrar investidores e autoridades na qual se apresentou com um presidenciável moderado. Em seguidas reuniões ao lado de seu secretário da Fazenda, Henrique Meirelles (PSD), defendeu o teto de gastos e fez um contraponto ao presidente Jair Bolsonaro. No plano partidário, modelou o discurso. Na condição de presidenciável tucano, passou a defender a pacificação com a ala bolsonarista da legenda e desistiu de brigar pela expulsão de seu maior desafeto, o deputado federal Aécio Neves (MG). Em entrevista ao <i>Estadão/Broadcast</i>, disse que acredita que ele e o ex-ministro e ex-juiz Sérgio Moro (Podemos) estarão "no mesmo campo em 2022, mas não necessariamente na mesma candidatura". Doria afirma também que os cinco anos de mandatos públicos o fez incluir o social em sua visão liberal da economia.

<b>Como será o processo de recolher os cacos no PSDB após um processo tão acirrado de prévias?</b>

Toda campanha é dura. Vivi essa experiência em 2016 e 2018. Venci as duas prévias e as duas eleições na sequência. Não será diferente agora. O pós prévias funciona como um imã. Isso é gradual.

<b>O presidente do PSDB, Bruno Araújo, teria sugerido a ideia de que os partidos do centro eventualmente façam um movimento para escolher um candidato único deste campo. Seria o caso de fazer prévias do centro?</b>

Não conversei com Bruno Araújo sobre isso, nem ele comigo. Desconheço essa proposta.

<b>Como será a conversa com os partidos do centro?</b>

É uma conversa que começa agora e vai até abril do ano que vem. Vamos ter um bom diálogo para definir não apenas qual candidato terá mais chances eleitoralmente, mas também capacidade de enfrentamento com o Lula e o Bolsonaro.

<b>O deputado Aécio Neves defende que a prioridade do PSDB deve ser eleger uma grande bancada em vez do presidente da República em 2022. Depois das prévias, como fica a situação dele no partido? Como está o clima na legenda?</b>

O PSDB deve prioritariamente ter sim um candidato a presidente da República e fazer uma grande bancada.

<b>Mas como fica a situação do Aécio? O sr. já defendeu a expulsão dele do PSDB, o que não aconteceu, sendo uma derrota política naquele momento…</b>

Melhor você perguntar a ele.

<b>O sr. está agora mais paz e amor?</b>

O PSDB deve estar integrado e harmonizado. Se não com a unidade, muito próximo dela. O PSDB é um partido sem dono. Tem muitas cabeças, muitas sentenças e muitas posições que precisam ser consideradas. O tempo vai ajudar a destilar e permitir que o PSDB se fortaleça ainda mais depois das prévias.

<b>Mas há dentro do PSDB um número grande parlamentares que são bolsonaristas. Como o sr. vai tratar essa questão?</b>

O comportamento de ontem e hoje não será necessariamente o de amanhã. Por isso o diálogo e o respeito ao tempo.

<b>Então não prevê uma depuração no partido?</b>

Não é esse sentimento e essa sentença. O comportamento do PSDB naturalmente vai verter em torno de sua candidatura à Presidência da República, mas isso de forma natural, e não na força e na imposição.

<b>O apresentador José Luiz Datena rompeu com o PSD e declarou apoio ao sr. Ele é um potencial candidato a vice em sua chapa?</b>

Vejo Datena com mais disposição de ser candidato ao Senado por São Paulo. Se assim for, tem grandes chances de ser eleito. Já estamos juntos, e para isso não é necessário que ele se filie ao PSDB.

<b>Como vê esse movimento do ex- governador Geraldo Alckmin de aproximação com o ex- presidente Lula, enquanto ainda permanece no PSDB?</b>

Essa é uma análise que cabe ao próprio governador Geraldo Alckmin definir as motivações para essa aproximação com o ex-presidente Lula, que ele e o PSDB sempre combateram nos últimos 20 anos.

<b>O ex-ministro Sérgio Moro (Podemos) se reuniu com Eduardo Leite no Rio Grande do Sul. Como o sr avalia esse encontro?</b>

Com absoluta naturalidade. Não vejo nenhum inconveniente. Ele (Moro) é pré-candidato do Podemos. Todos nós estamos no mesmo campo democrático liberal.

<b>O sr. enxerga alguma possibilidade de estar na mesma chapa de Moro em 2022?</b>

Estaremos juntos no mesmo campo, mas não necessariamente na mesma candidatura. Temos o mesmo objetivo, que é defender o Brasil e os brasileiros.

<b>Mesma chapa é mais difícil?</b>

É muito cedo ainda para fazer uma definição sobre isso. O tempo vai dizer se isso é possível. Mas estaremos no mesmo campo e longe dos extremistas.

<b>Henrique Meirelles foi anunciado porta-voz do seu futuro plano econômico, mas ele segue com o projeto de disputar o Senado em Goiás pelo PSD, que planeja lançar Rodrigo Pacheco à Presidência em 2022. Como o sr. vai administrar essa divisão?</b>

Vamos trabalhar com a informação que é sólida. Ele foi convidado e aceitou ser o porta-voz do comitê econômico da nossa candidatura.

<b>Qual seria o modelo ideal de negócio da Petrobras? Meirelles defendeu privatizá-la, mas só depois de fatiá-la.</b>

A ideia não é transferir um monopólio público para outro privado. Haverá uma modelagem bem feita e profunda para garantir que a Petrobras possa cumprir um novo papel em sua história nas mãos da economia privada. Ela não terá o mesmo tamanho que tem hoje. Será fatiada. As empresas que vencerem o leilão terão que mensalmente aportar recursos a um fundo de compensação que será um colchão a cada vez que tivermos aumentos mais expressivos no barril de petróleo no plano internacional.

<b>Tem expectativa de contar com apoio de partidos do Centrão em sua chapa?</b>

Não temos nenhuma restrição a alianças, desde que sejam republicanas.

<b>Qual será o papel de Eduardo Leite na sua campanha?</b>

Espero que seja digno e respeitoso, mas quero esclarecer que nunca o convidei para ser coordenador. Nem faria sentido. Ele é governador do Rio Grande do Sul. Teremos uma conversa nos próximos dias.

<b>Faz hoje alguma autocrítica sobre seu estilo de fazer política?</b>

O que me coloca distintamente em relação ao João Doria de 2016 é o sentimento social. Hoje, dada a realidade do País e de São Paulo, estou muito mais vinculado a uma política liberal e social do que quando eu era apenas um empresário. Minha visão era que uma postura liberal resolveria tudo. Não resolve.

<i>*O repórter viajou a convite da InvestSP</i>

As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

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