Em seu segundo dia de queda forte ante o real, o movimento do dólar respondeu à continuidade de notícias mais amenas no panorama mundial, com a desaceleração na curva de contágio e óbitos pela pandemia de coronavírus na Europa. Aliam-se a esse momento, todas as medidas que governos e bancos centrais estão tomando nos últimos dias, inclusive a do Banco Central Europeu (BCE), que hoje flexibilizou a exigência para aceitar garantias necessárias para empréstimos, o que deu alívio ao mercado cambial e tirou os investidores da situação de pânico. Assim, o dólar à vista fechou o dia com recuo de 1,25%, cotado a R$ 5,2264.
"Nesse contexto, há um desmonte de operações compradas em dólar. Me parece que começa a haver um movimento de reequilíbrio dos mercados, pois tanto no dólar quanto nas bolsas há um dia positivo", disse Álvaro Bandeira, economista-chefe do banco digital Modal Mais.
Nos Estados Unidos, o presidente Donald Trump disse que negocia a fase quatro do pacote fiscal para sustentar a economia do país durante a pandemia. A terceira fase do pacote somou US$ 2,2 trilhões. E, à tarde, o BCE anunciou que, com o objetivo de mitigar o aperto de condições financeiras, passará a aceitar garantias de menor qualidade para conceder crédito, como títulos de dívida da Grécia. Também houve facilitação na apresentação de garantias por pequenas empresas.
Bandeira ressalta que, a despeito de todas essas medidas, se os países começarem a flexibilizar o isolamento e houver uma segunda onda de contaminação, os mercados voltam a ficar estressados. Porém, acredita Bandeira, sem uma situação de pânico. "A tendência é ter ajustes, mas com menos volatilidade porque o grosso de proteção já foi feito".
Otavio Aidar, estrategista-chefe da Infinity Asset, nota que o real está dando um respiro, mas melhorando menos que as outras moedas de pares emergentes. Segundo ele, neste ano, entre as principais moedas de emergentes, a que mais sofreu foi o real, desvalorização de quase 23%, pouco a frente do Rand Sulafricano e do peso mexicano. No entanto, do recrudescimento da crise para cá, ou seja, após o Carnaval a moeda brasileira deprecia 14,87%, o rand 15,41% e o peso mexicano 19,52%, considerando as cotações por volta do meio da tarde.
"Portanto, não é o que mais volta. Quando o ajuste é para cima, sofre mais porque tem mais liquidez, a saída é mais rápida. Agora, a volta, vai depender do esforço para as reformas mais para frente", complementa Bandeira.
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