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Em Alagoas, a melhor regra é votar com o governo

Alagoas vive a polarização que domina a política nacional desde 1994 de uma forma peculiar. Em 49 das 102 cidades do Estado, o candidato do Planalto – seja ele tucano, seja petista – é o mais votado no 1.º turno da disputa presidencial. O índice que faz de Alagoas o campeão do governismo no País (48%) é cinco vezes maior que a média brasileira, de cerca de 10%.

Esse comportamento é tão singular que o Estado só não votou majoritariamente no candidato vencedor justamente quando houve troca do partido no poder. Em 2002, Alagoas foi a única unidade federativa na qual José Serra, candidato do PSDB do então presidente Fernando Henrique Cardoso, ficou à frente do petista Luiz Inácio Lula da Silva. Em 1994 e 1998, FHC foi vitorioso entre os alagoanos; de 2006 para cá, Lula e duas vezes Dilma Rousseff terminaram à frente dos tucanos.

Ouro Branco, cidade de 10 mil habitantes no sertão onde se ouve o barulho de motos e de carros de som o tempo inteiro, é o município mais governista de Alagoas – a cada eleição presidencial desde 1994, é lá que o candidato do governo abre a maior vantagem em relação à oposição. Neste ano, Dilma teve 75% no 1.º turno, ante 10% de Aécio Neves (PSDB). Por trás desse adesismo, o reconhecimento por melhorias na qualidade de vida, associada a uma conhecida história de dependência da população em relação a quem tem o poder da caneta.

Agricultor de 60 anos nascido em Ouro Branco, Genival Soares da Silva, o seu Vavá, sabe contar essa história como poucos. Ao andar pela cidade, ele aponta um por um os equipamentos públicos inaugurados na cidade nos últimos anos e compara a atual realidade com a Ouro Branco que conheceu quando jovem. “Olha essa creche, novinha! E aqui esse posto de saúde. Quando eu era marceneiro, dei tanto caixão de criança para os outros, de dó mesmo. Hoje em dia aqui não morre mais criança, graças a Lula e Dilma”, conta seu Vavá.

Poder local

Se é fácil entender a escolha do sertão de Alagoas por FHC em 1994 e 1998, após a estabilização da economia gerada pelo Plano Real, e a posterior devoção por Lula e Dilma, explicar a escolha por Serra em 2002 representa tarefa mais complexa. É difícil imaginar que não esteja associada ao apoio das lideranças estaduais a candidaturas contrárias à do PT.
Naquele ano, o PSB do então governador Ronaldo Lessa lançou candidato próprio. Já o atual senador Renan Calheiros (PMDB) foi ministro de Fernando Henrique e seu partido apoiava Serra naquela disputa.

Em Ouro Branco, é comum ouvir dos moradores relatos do que se espera de um prefeito ou governador: menos uma boa gestão do dinheiro público e atração de investimentos, e mais a atenção a pedidos dos mais necessitados. Nesses relatos, é comum confundir-se o público e o privado.

Há ainda a repressão aos opositores, uma cultura local que permanece mesmo com mudança de governo. Se o petista Vavá diz ter sido impedido de distribuir material de Lula em 2002, hoje é raro ver material do PSDB em Ouro Branco. Em dois dias percorrendo toda a área urbana da cidade, a reportagem avistou mais de 60 casas com adesivos de Dilma na entrada, perto da porta ou da parede.

De Aécio, apenas dois, e ambos do lado de dentro de uma grade, para que não fossem arrancados por pedestres. “O petismo aqui está muito forte, o eleitor do Aécio tem que se esconder”, suspira o empresário João Batista de Lima Filho, de 30 anos. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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