Ao fim de um ano marcado por mudanças, contratempos e muitas derrotas, Thomaz Bellucci admite que viveu em 2018 a pior temporada de sua carreira. Em entrevista ao Estado, o ex-número 1 do Brasil reconhece que ainda tenta “sair do buraco”, na luta para se recuperar no circuito profissional.
O “buraco” a que se refere o atleta de 30 anos é simbolizado pelas seguidas derrotas de virada, algumas até em qualifyings de torneios de nível challenger. E pela forte queda no ranking: o ex-número 21 do mundo chegou a figurar em 311.º neste ano – agora é o 242.º. Sem boa pontuação na lista da ATP, passou a disputar torneios menores. Por isso esteve na chave principal de apenas quatro competições da ATP em 2018 e entrou em somente um Grand Slam.
A forte queda de rendimento veio após uma suspensão de cinco meses por doping. Enquanto estava afastado, no início do ano, se mudava para os Estados Unidos. Sem os resultados esperados, encerrou a parceria com o técnico André Sá em setembro. Passou a contar somente com o treinador espanhol Germán López. Agora busca mais um profissional para acompanhar nas viagens pelo circuito profissional.
Após tantas mudanças e contratempos, em uma de suas temporadas mais tumultuadas da carreira, o tenista tenta se reabilitar no circuito. Para tanto, mantém o acompanhamento psicológico nos Estados Unidos para resgatar a confiança e já iniciou os treinos de pré-temporada, na Flórida. “Sei que posso jogar de igual para igual contra os melhores”, afirmou Bellucci, na entrevista exclusiva.
Como avalia a temporada? Muita coisa não saiu como você esperava…
Muita coisa, não. Na verdade, nada saiu como eu esperava. Foi uma temporada bem ruim, no quesito resultado. Foi muito aquém do que eu esperava, muito abaixo do desempenho que eu vinha tendo nos últimos anos. Geralmente nos challengers eu sempre tinha bons resultados. Neste ano não consegui manter o meu desempenho.
Esta foi a sua pior temporada da carreira?
Acho que sim. A temporada de 2007, ano em que acabei entre os 200 melhores do mundo, já foi melhor que essa, em que terminei entre os 230. Então, posso dizer, sim, que essa foi a pior dos meus últimos 11, 12 anos.
A suspensão afetou muito o seu rendimento? Teve algum impacto?
Não, acredito que só tenha afetado o começo da temporada, em termos de ritmo de jogo. A cabeça ainda estava pensando muito naquilo. Mas, depois disso, acho que não afetou. Foi mais uma queda de rendimento mesmo. Não consegui me encontrar em quadra. Não conseguia atender a minha expectativa porque estava jogando os torneios menores e queria sair logo dali. Eu demorei para ter resultado no começo. Isso me frustrou um pouco e acabou afetando o resto da temporada.
Uma das marcas de sua temporada foram as derrotas de virada. Você faz algum tipo de preparação psicológica para evitar estas oscilações ao longo dos jogos?
Sim, faço. Tratamento psicológico eu fiz a minha carreira inteira. Eu trabalhei com vários profissionais diferentes. Trabalho agora com um nos Estados Unidos. Nesta temporada, foram mais frequentes estes jogos em que estava com o jogo na mão, mas deixei escapar a vitória. Em três ou quatro jogos eu praticamente não consegui fechar. Foi uma questão de ansiedade, de querer ganhar muito, de saber que o meu adversário não tem um nível tão bom quanto o meu e que eu preciso manter o mesmo nível ao longo do jogo. Aí a concentração acabava diminuindo e eu perdia o jogo. Acho que, jogando num nível mais alto, com rivais mais difíceis, eu consigo manter a concentração por mais tempo porque sei que não posso me desconcentrar em nenhum momento.
Como estão os treinos nos Estados Unidos? Já está adaptado ao país e ao treinador?
Sim. O German é um cara muito legal, experiente. Já foi Top 100 também. E tem muita bagagem, muita experiência como técnico e jogador. Nestes momentos é importante ter um cara como ele do meu lado, me dando motivação e força para seguir adiante. Nestas horas é que caras como ele agregam em sua equipe e te ajudem a sair do buraco.
O que espera de 2019?
O principal para mim agora é entrar entre os 200 melhores do mundo o mais rápido possível, estar beirando o Top 100 para conseguir disputar os qualis dos torneios maiores. Acho que rendo mais jogando os qualis da ATP e dos Grand Slams do que jogando os challengers. Jogo melhor quando enfrento rivais melhores, que me exigem mais. Sei que posso jogar de igual para igual contra eles.
Qual será o calendário do começo do ano?
A princípio, vou disputar o qualifying do Aberto da Austrália. Depois vai depender de convite no Brasil Open (em São Paulo) e no Rio Open. E talvez possa jogar em Buenos Aires também.