A ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central reforçou o consenso do colegiado em torno de uma postura mais "vigilante" na administração da Selic e indicou que "eventuais ajustes futuros serão ditados pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta". Em decisão unânime, o Copom interrompeu o ciclo de cortes e manteve a taxa básica de juros em 10,5%.
"O comitê avaliou que a política monetária deve se manter contracionista por tempo suficiente em patamar que consolide não apenas o processo de desinflação, como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas", diz o texto, divulgado ontem pelo BC. Não há indicação ("guidance") para novas decisões, e isso foi frisado ontem pelo diretor de Política Monetária do BC, Gabriel Galípolo.
Na leitura do mercado, se o BC não trabalha neste momento com uma elevação da taxa, também não deixou nenhuma porta aberta para retomada dos cortes da Selic no curto prazo. "Não vejo possibilidade de queda, dado que seria necessário mudar as expectativas de inflação e melhorar o cenário à frente, com uma mudança fiscal significativa, que provavelmente não vai acontecer", disse o economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale. "É difícil imaginar que o BC terá espaço para muita mudança até o fim do ano."
Segundo a ata, a projeção para o IPCA de 2024 está em 4% no cenário de referência. Na reunião de maio, o colegiado previa inflação de 3,8% neste ano, já acima do centro da meta, de 3%. Para 2025, a projeção é de 3,4%, também uma elevação em relação à estimativa divulgada no encontro de maio.
Nesse cenário, o BC aumentou sua estimativa para a chamada taxa de juros real neutra, de 4,5% para 4,75%, que estava estável desde meados do ano passado. Juro neutro é um conceito utilizado para indicar que uma determinada taxa é adequada para estimular a economia sem gerar instabilidade na inflação ao longo do tempo.
Em relação ao quadro fiscal do País, o Copom afirmou que monitora "com atenção" como os desenvolvimentos recentes dos gastos do governo vão afetar a política monetária e ativos financeiros. "O comitê reafirma que uma política fiscal crível e comprometida com a sustentabilidade da dívida contribui para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de risco dos ativos financeiros."
As dúvidas sobre o quadro fiscal voltaram a pesar ontem no mercado de câmbio. Depois de dois dias consecutivos de queda, a moeda americana registrou alta de 1,19%, cotada a R$ 5,45. Só em junho, a valorização chega a 3,88%. "O mercado se pergunta se o governo terá disposição para cortar os gastos", disse o economista-chefe do PicPay, Marco Caruso.
<b>Galípolo diz que não há sinalização sobre o rumo futuro dos juros</b>
O diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, disse nesta terça-feira, 25, que o fato de a ata da reunião da semana passada do Comitê de Política Monetária (Copom) ter usado o termo "interrupção" do ciclo de corte da Selic não significa qualquer sinalização ou indicação futura do colegiado.
"A palavra que usamos é interrupção, mas claramente não queremos fazer nenhum guidance à frente. Usamos a palavra interrupção, mas vamos deixar aberto para ver como as coisas vão se desdobrar", disse Galípolo, em debate promovido pela Warren Investimentos, ao ser questionado se o ciclo de corte de juros havia sido interrompido ou encerrado.
Segundo ele, a autoridade monetária precisa ter segurança de que os juros estão em patamar restritivo o suficiente para a convergência da inflação às metas. "A função do BC não é ser tomador de risco, é ser mais cauteloso e ter alguma segurança de que a taxa de juros está no patamar restritivo o suficiente para colocar a inflação na meta", disse.
Galípolo lembrou que, desde o Copom de maio, quando houve a divisão nos votos do colegiado, vinha dizendo que o tempo jogaria a favor do BC e que não havia divergências internas sobre o diagnóstico de cenário. "A ata (divulgada ontem) é uma reafirmação e corroboração nesse sentido, da coesão que temos aqui dentro."
<b> Paz de espírito </b>
Segundo ele, o consenso é importante porque a chance de os nove membros do Copom errarem é menor do que a de um diretor errar sozinho. Mas disse considerar importante que cada um vote de forma coerente com o que acredita, para que o consenso "não vire um escudo" para evitar críticas.
"Quando eu entrar numa reunião do Copom pensando que vou fazer isso ou aquilo com receio de ouvir críticas de A ou de B, eu vou começar a empilhar decisões equivocadas e vou ter muita dificuldade", disse Galípolo, visto no mercado como possível sucessor de Roberto Campos Neto no comando do BC. O mandato de Campos Neto termina em dezembro. "Ser criticado ou não ser criticado não é uma opção, a gente não controla isso. A única coisa que a gente controla é ter a coerência para poder ter paz de espírito e fazer aquilo que a gente realmente acredita."
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>