Pressionado pelo mau desempenho nas pesquisas eleitorais e com resultados econômicos ruins por causa da pandemia, o presidente Donald Trump defendeu ontem, pela primeira vez, o adiamento da eleição americana agendada para 3 de novembro. Ele criticou a ampliação do voto por correio na disputa deste ano e deu sinais de que não aceitaria uma eventual derrota.
Trump sugeriu que o voto por correio pode fazer com que não se conheça o vencedor por "semanas, meses ou até anos".
"Quero ter o resultado da eleição. Não quero esperar por três meses e descobrir que há cédulas faltando", disse Trump. Pela manhã, no Twitter, o presidente afirmou que a votação será a "mais imprecisa e fraudulenta da história". "Será uma grande vergonha para os EUA. Adiar as eleições até que as pessoas possam votar de maneira adequada, segura e protegida???", escreveu o presidente.
O tuíte veio pouco depois de o Departamento de Comércio anunciar uma queda recorde, de 32,9%, no Produto Interno Bruto (PIB), no segundo trimestre deste ano – a maior desde a Grande Depressão, em 1929.
A proposta teve forte reação contrária de parlamentares, incluindo republicanos. Horas mais tarde, ao responder a perguntas de jornalistas na Casa Branca, ele disse que não gostaria de mudar a data, mas continuou a desacreditar o processo eleitoral e sugerir que há fraude no uso de voto por correio. O movimento foi um passo adiante na estratégia do presidente de tirar a credibilidade do processo eleitoral, conforme perde espaço para o democrata Joe Biden na disputa pela Casa Branca.
Trump não teria autoridade para determinar o adiamento das eleições, pois a Constituição americana estabelece que cabe ao Congresso decidir o calendário eleitoral e a definição da data foi estabelecida em lei federal de 1845. Para que houvesse alteração, seria necessário chegar a um acordo bipartidário nas duas casas legislativas – Câmara, de maioria democrata, e o Senado, com mais republicanos.
Nenhum dos dois partidos, porém, abraçou a sugestão. Parlamentares rechaçaram a possibilidade de mudança imediatamente após o tuíte de Trump. O líder da maioria no Senado, o republicano Mitch McConnell, disse que "nunca na história do país, entre guerras, depressões e Guerra Civil" os americanos deixaram de ter o cronograma eleitoral cumprido. "Encontraremos um jeito de fazer isso novamente em 3 de novembro", afirmou em uma entrevista. Ted Cruz, Marco Rubio e Lindsey Graham, republicanos aliados fiéis de Trump no Senado, também refutaram a ideia.
Ainda que os parlamentares dos dois partidos aderissem à possibilidade de mudar a data da eleição, o que é improvável no cenário atual, há pouco espaço para efetuar a alteração. As datas de posse do presidente, em 20 de janeiro, e do Congresso, em 3 de janeiro, são estabelecidas na Constituição e não podem ser alteradas em um processo legislativo tradicional.
<b>Pesquisas</b>
Trump está pressionado pelo crescimento de Biden nas pesquisas de intenção de voto nacionais e nos Estados-chave, em meio a avaliação ruim da resposta do governo à crise sanitária e, por consequência, econômica. Os EUA têm o maior número de infectados e mortos por coronavírus no mundo e superaram a marca de 150 mil óbitos na quarta-feira.
Em 14 sondagens de diferentes institutos feitas desde maio em Estados e também em todo o país, compiladas pelo site Five Thirty Eight, Biden lidera em 14 delas – em algumas, a diferença é de 14 pontos porcentuais em relação a Trump.
Os procedimentos de votação na eleição americana são descentralizados, definidos pelos Estados. Além do comparecimento no dia da votação, há possibilidade do voto pelo correio ou presencial antecipado. Para evitar aglomerações, em razão da pandemia de coronavírus, muitas regiões fizeram revisões da regras eleitorais e ampliaram a possibilidade de votação não presencial, admitindo o voto por correio sem necessidade de justificativa. O procedimento do voto à distância pode, segundo especialistas, atrasar o resultado da eleição, mas não há indicações de que haja aumento de fraude nesse processo eleitoral.
Essa não é a primeira vez que Trump alega fraude no processo eleitoral. Ele já estabeleceu uma comissão para apurar ilegalidade nas eleições de 2016, em que Hillary Clinton venceu no voto popular, mas não conseguiu a maioria no Colégio Eleitoral. A comissão foi desfeita por falta de provas.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>