Estadão

Em baixa pelo 3º dia, Ibovespa cai 0,54%, aos 109,9 mil pontos

Ainda refletindo a cautela que se impôs ao apetite por risco desde a última terça-feira, quando se conheceu a leitura acima do esperado para a inflação ao consumidor nos Estados Unidos em agosto, o Ibovespa estendeu nesta quinta-feira, 15, a série negativa pelo terceiro dia ao fechar em baixa de 0,54%, aos 109.953,65 pontos, menor nível de encerramento desde 8 de setembro. Nesta quinta-feira, oscilou dos 109.523,89 aos 111.100,41 pontos, saindo de abertura a 110.546,52. Fraco, o giro ficou em R$ 22,4 bilhões na véspera de vencimento de opções sobre ações. Na semana, o índice cai 2,09%, ainda mostrando ganho de 0,39% no mês – em que o fluxo de saída de recursos estrangeiros da Bolsa chega a R$ 1,229 bilhão até anteontem – e alta de 4,90% no ano.

"O Ibovespa tende a ficar lateralizado até a decisão de política monetária do Federal Reserve na próxima quarta-feira. Os dados da produção industrial americana divulgados hoje, mais fracos, mostram que a alta de juros tem produzido efeito sobre a atividade por lá e, com o viés ainda hawk do Fed para controlar a inflação, fica a dúvida sobre a taxa terminal, o que tem resultado em revisão de projeções, como a do Credit Suisse, que passou da faixa de 3,75%-4,00% para a de 4,25%-4,50% no fim de ciclo", aponta Nicolas Farto, especialista em renda variável da Renova Invest, casa que espera aumento de 75 pontos-base para os fed funds no dia 21, data em que o mundo estará, como de costume, atento aos detalhes da comunicação do BC americano, especialmente na coletiva do presidente Jerome Powell.

Farto observa também revisão ainda em curso nas projeções de crescimento da China, país fundamental para a formação de preços de commodities como o minério, aos quais o Ibovespa tem grande exposição. Nesta semana, a Fitch revisou sua estimativa de expansão do PIB chinês de 3,7% para 2,8%, em 2022, e de 5,3% para 4,5%, em 2023. A desaceleração da China tem reforçado a perspectiva de que o governo reaja com estímulos fiscais, em momento no qual a política monetária permanece afrouxada no país, diferentemente de outras grandes economias. Nesta quinta, contribuindo para o avanço de Vale (ON +2,01%) na sessão, o minério subiu 0,70% em Dalian, China.

No Brasil, o IBC-Br, considerado indicador antecedente do PIB, foi um fator positivo, o que poderia se refletir em desempenho favorável das ações com exposição à economia doméstica, como as de consumo – o que não foi o caso nesta quinta em que o ICON fechou em baixa de 1,27%. Por outro lado, o avanço de Vale foi decisivo para que o índice de materiais básicos (IMAT) encerrasse com leve ganho de 0,04%, em dia moderadamente negativo para Petrobras (ON -0,23%, PN -0,19%) apesar da forte correção vista no petróleo, em queda superior a 3% que devolve o Brent à linha de US$ 90 por barril, abaixo da qual as compras costumam prevalecer.

Entre os grandes bancos, apenas Itaú (PN +0,26%) se descolou deste terceiro dia de perdas para o Ibovespa. Na ponta negativa do índice, Ecorodovias (-11,97%), Cosan (-4,65%), Via (-4,60%), Qualicorp (-4,29%) e Sabesp (-4,21%). No lado oposto, Positivo (+7,24%), Embraer (+3,58%) e Marfrig (+2,56%), à frente de Vale (+2,01%).

"O IBC-Br de julho veio acima do teto das estimativas. Ontem, o mercado havia ficado parcimonioso por conta do enfraquecimento da leitura sobre o varejo no mesmo mês, com queda de 0,8% do varejo restrito e de 0,7% no ampliado. O contraponto ao enfraquecimento do varejo é a retomada dos serviços, setor que deve continuar pavimentando o crescimento econômico no Brasil neste segundo semestre", diz Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimentos.

"O IBC-Br veio muito forte com crescimento acima de 3,5% para a economia, no ano contra ano, e no mês contra mês muito forte também, o que mostra que a economia brasileira entrou no segundo semestre em expansão. Agosto e setembro devem mostrar arrefecimento, na margem, com a economia ainda crescendo mas em ritmo menor", diz Victor Candido, economista-chefe da RPS Capital. No Brasil, "a discussão do higher for longer juros mais altos por mais tempo deve ganhar força no mercado e o BC tende a manter o tom duro da comunicação, embora consideremos que o ciclo de alta da Selic já esteja concluído", o que deve ficar mais claro na próxima quarta-feira, acrescenta o economista.

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