Quando participou da Campus Party no ano passado, a carioca Letícia Bacelar, de 19 anos, estava se sentindo sozinha. Apesar de ter vindo numa caravana com amigos, ela era a única mulher em um grupo de 17 pessoas vindo de Campo do Goytacazes, no Rio de Janeiro. “Era muito estranho ser a única mulher na caravana”, conta. Dessa vez, a situação mudou: na caravana vinda da cidade interiorana do Rio de Janeiro e formada por cerca de 40 pessoas, 15 são mulheres.
“É só olhar ao seu redor na Campus e ver que a situação está mudando”, afirma Letícia, que está em sua segunda edição do evento. “Mulheres estão se interessando mais por tecnologia e se sentindo mais confortáveis em eventos como a Campus Party. É natural que aumente o número de meninas com o passar dos anos e das edições.”
A aposentada Maria Margarete, de 57 anos, é prova da diversidade entre o grupo de campuseiros que participam do evento. Margarete veio para a Campus pela primeira vez há quatro anos, por insistência de uma amiga. No começo, ela se sentiu incomodada com a ausência de outras participantes do sexo feminino.
Hoje, ela já sente que o comportamento da própria organização da feira em relação às mulheres e também dos campuseiros mudou. “As mulheres estão evoluindo muito em termos de participação e inclusão de eventos como este. Elas estão mais ativas, mais participativas e mais interessadas”, diz a aposentada. “Com isso, me sinto ainda mais confortável para interagir, conversar, conhecer pessoas, assistir as palestras.”
Voz
De acordo com a organização da Campus Party, cerca de 40% do total de 750 palestrantes são mulheres — há alguns anos, o número chegava a apenas 5% do total. Uma das pessoas que estão ajudando a mudar essa realidade é Alda Rocha, ativista feminista do setor de tecnologia e palestrante de um painel sobre design. Para ela, é importante ver mais mulheres na programação oficial.
“Participo da Campus há nove anos e estou vendo as mulheres mais confortáveis”, diz Rocha. “Estamos nos sentindo mais seguras na hora de subir em um palco e isso é uma forma de mostrarmos que as mulheres estão aqui, que estão participando.”
Para algumas campuseiras, a participação ainda precisa aumentar. “Eu não vejo mulheres em palestras mais técnicas”, diz a publicitária Marina Ferigolo, brasiliense e que está em sua primeira edição da Campus Party. “Me surpreendi com o grande número de mulheres na própria Campus, mas ainda acho que faltam meninas em painéis. Isso me incomodou um pouco.”
Machismo
Apesar do aumento na presença feminina, campuseiras reclamam do ambiente essencialmente masculino e, muitas vezes, hostil à presença das mulheres. A brasiliense Fernanda Amador, de 26 anos, por exemplo foi vítima de tuítes agressivos de campuseiros após questionar a marca Gilette no Twitter a respeito de uma promoção direcionada somente para homens que participam na Campus. A marca foi procurada para comentar o caso, mas não respondeu até a publicação dessa reportagem.
“Me senti muito desrespeitada”, afirma Fernanda, que está em sua primeira edição do evento. “Os homens da Campus ainda acham que aqui é apenas para eles, mas não é assim. A tecnologia permeia todos os públicos e tem que ser inclusiva para todos eles. Acho que eles precisam entender isso e a Campus, por outro lado, precisa mostrar como essa diversidade é algo natural.”