"Eu vivia numa família feliz. Morávamos no campo. Costumava brincar com meus dois irmãos. Ajudava meu pai a cortar lenha. Minha mãe cuidava da casa. Na época, eu tinha entre 12 e 13 anos. Determinado dia, apareceu em nossa casa um homem gordo, de bigode, dizendo que a gente teria que sair da terra que era dele. Meu pai resistiu. Disse que não sairia. Ele foi embora avisando que íamos nos arrepender.
À noite, apareceram em nossa casa homens a cavalo. Eles abusaram de minha mãe e mataram meu pai. Pisotearam as crianças com seus cavalos. Jogaram meu corpo no rio, mas meu corpo enroscou na margem. Fiquei com ódio e prometi procurar o homem gordo, de bigode. Permaneci nas trevas o perseguindo, até que minha mãe veio me buscar".
O relato acima corresponde a uma das 27 vivências, ou reencarnações, que a bancária aposentada Maria Galli, de 54 anos, moradora da Vila Gustavo, em Guarulhos, na Grande S. Paulo, conseguiu descobrir em três anos de Terapia de Vida Passada (TVP) que fez, inicialmente, por curiosidade, para saber quem foi no passado, mas que, a cada sessão, a ajudou a explicar fatos de sua personalidade na vida atual.
"Eu descobri porque sempre fui controladora, porque sempre ficava angustiada quando meus dois filhos saíam de casa, Eu tinha medo que eles sofressem, eu queria, a todo custo, controlar a situação. Eu tinha medo de perder minha família, como aconteceu em outra vida. E esta descoberta me fez aceitar que não posso controlar tudo, principalmente o que vem de fora", contou Maria.
Ela disse que, com as sessões de TVP, aprendeu, na verdade, duas palavras que mudaram a sua atual existência: "permita-se" e "sem culpa". A partir daí, Maria afirmou que é uma mulher mais feliz. "Fiz alguma coisa? Está feito. Nada de arrependimento. Se foi algo errado, tenho que trabalhar para não fazer de novo. Aprendi a me amar, a me aceitar como sou", disse sorridente.
Também descobriu que, em uma de suas primeiras encarnações, ela foi um índio americano, provavelmente, um pajé. Outra experiência a fez comprovar a "lei da causa e efeito". Durante uma das sessões, Maria se viu uma mulher entre 40 e 50 anos de idade, que passou quase toda a vida sendo submetida a abusos de seu companheiro. Em determinado momento, ele foi picado por uma cobra e lhe pediu ajuda. Vendo o fato como uma oportunidade de livrar-se do sofrimento, ela o deixou morrer.
"Depois, em outra sessão, me vi acompanhada com um homem. Me dirigi a um poço para pegar água. Me desequilibrei e cai. Gritava pedindo ajuda e a pessoa que estava comigo me olhava morrer. No instante senti que aquela morte era um resgate e aceitei a situação. Foram duas mortes consideradas acidentais", observou. As outras 25 vivências descobertas não foram reveladas à reportagem por constar detalhes íntimos e familiares da aposentada.
A TPV ajuda a curar qualquer dificuldade de comportamento
A terapeuta Maria Bernardete de Oliveira Roquini, de 55 anos, membro da Sociedade Brasileira de Terapia de Vida Passada (SBTVP), responsável pelo tratamento de Maria Galli, explicou que a regressão é uma técnica utilizada na terapia de vida passada. É indicada para o tratamento de qualquer transtorno ou dificuldade de comportamento.
"Geralmente quando a pessoa está repetindo padrões de comportamento, tem problemas de depressão, de relacionamentos familiares, problemas no trabalho etc, a Terapia de Vida Passada vai proporcionar um autoconhecimento. Não vai dá para consertar o passado, mas vai dar para reprogramar uma nova vida. Se a pessoa foi um rei tirano, é provável que traga a tirania, a arrogância e outros defeitos de caráter. A gente trabalha esse lado", explicou Bernardete.
A TVP atua com duas técnicas, ou técnica padrão, que envolve o caráter (a pessoa descobre quem foi) e as presenças, que são os desafetos, os espíritos obsessores. "A gente trabalha o perdão na terapia". Ela fez questão de dizer que não há nenhuma ligação entre TVP e religião, e que é irrelevante para o tratamento o paciente acreditar ou não em reencarnação. No caso de Maria Galli, ela é adepta do Kardecismo.A morte – Durante as sessões de TVP, o paciente vivencia sua última morte, descreve como ela aconteceu, sente as últimas agonias e chega a ver o próprio corpo. "O que acontece são apenas lembranças. A gente faz o preparo psicológico e tenta fisgar na vida passada o que tem a ver com a sua problemática atual".
Ela destaca a importância: "Na hora da morte, tomamos algumas decisões que virão para a vida atual. Se for uma decisão envolta de ódio, temos que trabalhar isso. E esta abordagem acelera o processo terapêutico; já tive pacientes que tinham medo da morte, e perderam este medo".Contra-indicações – "A gente não faz a regressão em pessoas com doenças descompensadas, como problemas cardíacos, diabetes e pressão alta, pois é muita emoção. Não fazemos em gestantes e não fazemos TVP em grupo", explicou Maria Bernardete.
Regressão de Memória no auxílio à vida sexual
A Regressão de Memória é um fenômeno hipnótico utilizado para curar o estado da alma. É indicada em casos de ansiedade, estresse, depressão, síndrome do pânico e outras alterações comportamentais. Também é utilizada no tratamento da impotência ou ejaculação precoce, e no vaginismo (distúrbio da sexualidade feminina que pode até impedir uma relação sexual), segundo explicou o psicólogo e especialista em hipnose Odair J. Comin, de 36 anos.
Segundo ele, todos nós temos fenômenos hipnóticos todos os dias, como as lembranças. "Quando a gente relembra, por exemplo, um fato que aconteceu na infância, estamos colocando em prática um fenômeno hipnótico", observou. Planejar o futuro também se trata de um fenômeno hipnótico.
No tratamento, se trabalha então com a hipermnésia, onde se evoca o passado por meio da hipnose para resolver os problemas atuais. Ela difere da regressão na intensidade daquilo que se acredita que acontece. Primeiro se faz um mapeamento da vida do paciente, depois é que se começa "a faxina", ou seja, a "colocar a casa em ordem", nas palavras do psicólogo.
Fobia de cães – "Um paciente tem medo de cães. Por meio da hipnose a gente o faz voltar ao tempo,a relembrar cada momento de sua vida, até encontrar o motivo que o levou a ter essa fobia. Depois, colocamos nesta mente outras ferramentas que não existiam para controlar este medo. O passado não nos impacta, mas o sentimento atrelado no que aconteceu".
Parapsicólogo usa regressão até para salvar casamentos
O parapsicólogo e psicobiofísico Fausto Oliveira, 60 anos, autor do best seller Meu Anjo – Tudo sobre regressão de memória em busca de sua alma gêmea (Editora Seame), hoje vendido em cabines nas estações de Metrô, usa a Regressão de Memória até para salvar casamentos e melhorar o lado financeiro. Especialista no assunto, já aplicou sua técnica em famosos como os cantores Latino e Agnaldo Timóteo, entre outras personalidades.
Oliveira afirmou que, pela regressão, consegue tirar todos os traumas no ser humano, no momento em que o faz regredir ao útero materno. E fez uma analogia: "eu entro no subconsciente do paciente, que podemos considerar um disco rígido e deleto o arquivo que está com problema, pois eu tenho a chave-mestra".
Ele defendeu com unhas e dentes a tese de que "o homem é aquilo que pensa, aquilo que acredita". Explicou que o subconsciente não é Deus, é o disco rígido que não sabe quem é você, mas que sabe que você vai viver aquilo que foi armazenado no dia-a-dia.
"Se você vai dormir pensando que vai ser traído ou roubado, tenha certeza que amanhã você, realmente, vai ser traído ou roubado, é a lei da atração. Toda a pessoa que vive se lamentando, relembrando problemas passados, o subconsciente entra em ação e entende que aquela pessoa quer reviver os problemas".
O parapsicólogo é contrário a Terapia de Vida Passada. E foi enfático: "desaconselho a pessoa saber quem foi no passado. Temos que largar o passado. Muitas vezes, a vida passada é pior que essa". Oliveira admitiu que já trabalhou com regressão de vida passada. Assegurou que o paciente precisa ter crença em vidas passadas. "Tem que acreditar em reencarnação, caso contrário, ele se autobloqueia".
Oliveira lembrou um caso. "Uma paciente tinha problemas de respiração. Na regressão, ela se visualizou uma prostituta espanhola que foi enforcada. No tratamento, eu deletei aquela imagem e coloquei no lugar uma outra, de uma moça bonita e feliz. Ela ficou bem. Agora, a prostituta espanhola existiu? Não importa. Importa que aquela imagem estava no seu subconsciente e eu deletei; apaguei uma fantasia ou uma realidade", afirmou.
Considerado o "papa da regressão" e com formação em engenharia eletrônica, Oliveira se intitulou um autodidata em Medicina, Psicologia e Física Quântica, e disse já ter descoberto que em outras reencarnações ele foi um índio (por volta do ano 1.600) e um aristocrata inglês especializado em medicina popular (por volta do ano 1.800).
