Em meio à corrida eleitoral e diante de uma crise de imagem e econômica, o presidente argentino, Mauricio Macri, recebe nesta quinta-feira, 6, Jair Bolsonaro em Buenos Aires, em uma tentativa, segundo analistas, de mostrar que tem apoio externo ao seu programa de estabilização econômica. À semelhança do que ocorreu em sua viagem ao Chile, Bolsonaro será recebido por manifestantes contrários a seu governo.
Na Casa Rosada, o discurso oficial é que não haverá danos à já combalida imagem de Macri. “Bolsonaro é um presidente eleito, em eleições cujos resultados não foram questionados. É um presidente com legítimo direito e, independentemente de qualquer orientação, a Argentina vai recebê-lo como recebe todos os presidente”, afirmou ao jornal O Estado de S. Paulo o ministro de Produção e Trabalho argentino, Dante Sica.
Em um país em que a ditadura é lembrada todas as quintas-feiras, quando as Avós da Praça de Maio voltam a seu ponto de encontro e leem o nome de parentes desaparecidos, os discursos de Bolsonaro podem ser mal recebidos e a associação do brasileiro com Macri, mal vista pelos eleitores – a eleição será em 27 de outubro e a chapa Alberto Fernández e Cristina Kirchner lidera as pesquisas.
“O presidente brasileiro é desprezível. Na Argentina, é muito claro que os militares sequestraram e desapareceram não só com militantes da luta armada, mas também estudantes, professores e trabalhadores. Neste país, esse discurso de ódio se sustenta apenas em setores minoritários”, diz Agustín Cetrángulo, da associação H.I.J.O.S. (sigla que significa “filhos pela identidade e justiça contra o esquecimento e o silêncio”).
Além da H.I.J.O.S., outras 63 entidades de esquerda convocaram um protesto contra Bolsonaro. Na última visita de um dirigente brasileiro à Argentina, um protesto semelhante não reuniu mais que 100 pessoas contra Michel Temer na Quinta de Olivos, a casa presidencial. Desta vez, porém, espera-se uma presença maior, pois há mais grupos envolvidos.
Para Daniel Kerner, da consultoria de risco político Eurasia, a chapa kirchnerista deverá usar as imagens de Bolsonaro na Argentina contra Macri. Kerner, porém, acredita que o eleitor indeciso não deve ser influenciado por isso. “Ele está mais preocupados com a situação econômica”, afirma. O PIB caiu 2,5% no ano passado e, segundo projeções, recuará mais 1,2% em 2019, enquanto a inflação nos últimos 12 meses chegou a 55%.
Macri pretende renovar suas credenciais econômicas ao receber Bolsonaro, segundo o analista Rosendo Fraga. “Para a estratégia de Macri, o apoio externo é importante para conter a instabilidade. Donald Trump o apoia publicamente e também os presidentes do Chile (Sebastián Pereira) e do Brasil. Pode ser que isso tenha um custo eleitoral para Macri, mas isso é incerto”, diz.
Foi por apoio internacional que o ministro da Fazenda argentino, Nicolás Dujovne, esteve no Brasil em abril para se encontrar com o ministro da Economia, Paulo Guedes. Dujovne saiu com palavras de apoio. “Apoiaremos todos os esforços de estabilização da Argentina”, disse Guedes.
Nas reuniões desta quinta, porém, nenhum grande acordo econômico deve ser anunciado, disse o ministro da Produção. “Vamos tratar da questão do Mercosul e da União Europeia, de como vai o setor automotivo, de convergências regulatórias. São assuntos que sempre estão na mesa”, disse Sica.
A reportagem apurou que, durante a viagem, deverão ser anunciados tratados de cooperação nas áreas de energia, mineração e segurança, além de um memorando de entendimento sobre defesa do consumidor.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.