Em sua primeira visita oficial à Argentina, Jair Bolsonaro quebrou mais uma vez na quinta-feira, 6, protocolos diplomáticos e anunciou apoio à reeleição do presidente Mauricio Macri. Apesar de não citar o nome do argentino nem a chapa adversária, composta por Alberto Fernández e Cristina Kirchner, Bolsonaro afirmou que pedia a Deus que iluminasse os argentinos para que “votassem com a razão e não com a emoção”.
As eleições presidenciais da Argentina serão em 27 de outubro e, de acordo com as últimas pesquisas, a chapa kirchnerista está à frente em um possível segundo turno, mas quase empatada no primeiro.
“Eu conclamo o povo argentino, que Deus abençoe a todos eles, porque terão pela frente agora eleições. E todos têm de ter, assim como grande parte da população no Brasil teve, muita responsabilidade, razão e menos emoção para decidir o futuro desse país maravilhoso que é a Argentina”, disse o brasileiro ontem, em discurso na Casa Rosada, ao lado de Macri.
Bolsonaro destacou que os países têm de ser parceiros não apenas econômicos, mas na busca “por um objetivo maior: a liberdade”. “Toda a América do Sul está preocupada, pois não quer novas Venezuelas na região”, afirmou, em referência à deterioração econômica que ocorreria, segundo ele, caso o kirchnerismo voltasse ao poder na Argentina.
Mas o ministro brasileiro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, disse que o governo brasileiro não quer interferir de “nenhuma maneira” no processo eleitoral argentino. “Apoiar Macri é o reconhecimento do muito que pode ser feito hoje entre os dois governos”, disse. “Não é pensando na hipótese de vitória de Cristina que vamos desaproveitar este momento.”
Para o cientista político Marcelo Leiras, da Universidad de San Andrés, apesar de Bolsonaro não ter citado nomes, houve uma interferência do brasileiro na política interna argentina, o que é “muito mal visto em relações exteriores”.
O brasileiro já havia demonstrado seu apoio a Macri em ocasiões anteriores. Em Dallas, quando recebeu o prêmio de personalidade do ano da Câmara de Comércio Brasil-EUA, em maio, Bolsonaro disse que Cristina Kirchner, “amiga do PT”, pretendia roubar a liberdade “de nós”.
Além de ser alvo de comparações, a Venezuela também foi assunto das reuniões bilaterais de ontem. A jornalistas, Bolsonaro afirmou que espera que haja um racha no Exército venezuelano, que hoje apoia Nicolás Maduro, para que o governo se desestabilize. “É difícil acabar com uma ditadura. Esperamos que haja um racha. Caso contrário, fica difícil normalizar a situação.”
Na área econômica, os dois presidentes destacaram que o acordo de livre-comércio entre Mercosul e União Europeia nunca esteve tão próximo de ser fechado. As negociações já se estendem há mais de 20 anos e, em até quatro semanas, o documento poderia ser assinado, segundo o ministro da Economia, Paulo Guedes.
Questões sobre a taxação de vinhos e laticínios estão entre as poucas que ainda estão abertas. Há a expectativa de que as negociações sejam encerradas em uma rodada em Bruxelas, nos dias 27 e 28 de junho. “Só não sei se seria anunciado ali ou no encontro do G-20 (no Japão, em 28 e 29 de junho)”, disse o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP).
Segundo o presidente, nas reuniões, foi discutida ainda a possibilidade de se construir duas hidrelétricas entre a Argentina e o Rio Grande do Sul. Sobre a reforma da Previdência, Bolsonaro admitiu que a tramitação está desgastada e a posição dos parlamentares em relação à inclusão dos Estados e municípios no texto não é “justa”.
“Tem desgaste sobre a previdência. Mas todo mundo tem de estar no mesmo barco. Acho que eles (os parlamentares) vão ceder e vai ser como gostaríamos que fosse. Uma reforma que pegue todo mundo e com o voto de todos os partidos”, afirmou.
No Hotel Alvear, o mais luxuoso de Buenos Aires, Bolsonaro foi abordado por um grupo de apoiadores, para os quais afirmou esperar que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fique “muito tempo” preso em Curitiba. Apesar de alguns brasileiros terem demonstrado apoio a Bolsonaro, 64 movimentos sociais organizaram ontem um protesto contra ele diante da Casa Rosada. O presidente, porém, já havia deixado o local.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.