Os presidentes dos EUA, Joe Biden, e da China, Xi Jinping, passaram mais de três horas e meia em uma videoconferência na noite de segunda-feira, 15, após meses de tensões, para mostrar que podiam administrar suas disputas e evitar uma espiral de confrontos. O momento mais tenso da conversa foi sobre Taiwan, quando os dois trocaram advertências.
Como não foi divulgada a transcrição da conversa, o que se sabe do conteúdo foi o que ambas as presidências divulgaram. Segundo a imprensa estatal chinesa, Xi advertiu Biden que estimular a independência de Taiwan seria "brincar com fogo". "E quem brinca com fogo pode se queimar", advertiu Xi, segundo transcrição distribuída pela chancelaria da China.
Biden também falou alto. Em comunicado, a Casa Branca defendeu a autonomia da ilha. "O governo dos EUA se opõe de modo veemente às tentativas unilaterais de mudar o status quo ou dizimar a paz e a estabilidade no Estreito de Taiwan", diz a nota.
<b>TENSÃO</b>
Em outubro, Pequim enviou aviões para sobrevoar a zona de defesa aérea taiwanesa. Biden respondeu, garantindo sua disposição de ajudar militarmente Taiwan se a ilha fosse atacada – uma aparente mudança de posição oficial dos EUA, que vinham se abstendo de indicar claramente em quais circunstâncias interviriam militarmente.
Outro tema que causou certo atrito na conversa foram os direitos humanos. Biden expressou preocupação com "as práticas da China em Xinjiang, Tibete e Hong Kong". Washington acusa Pequim de violações dos direitos humanos de minorias nas duas regiões do oeste chinês e pela deterioração das liberdades da ex-colônia britânica.
Curiosamente, o comunicado chinês sobre a conversa com Biden não menciona esse ponto, mas garante que Xi afirmou estar disposto a dialogar sobre questões de direitos humanos "com base no respeito mútuo". "No entanto, rejeitamos que os direitos humanos sirvam de pretexto para interferir nos assuntos internos de outro país", teria dito o presidente chinês.
<b>CORDIALIDADES</b>
Apesar dos ruídos, os dois lados também fizeram promessas de cooperação e trocaram cordialidades, com Xi chamando Biden de "velho amigo" e recebendo a promessa de ser tratado com "honestidade" pelo americano. "Precisamos estabelecer salvaguardas, ser claros e honestos onde estamos em desacordo e colaborar onde nossos interesses coincidem", declarou Biden. "China e EUA devem se respeitar mutuamente, coexistir de forma pacifica e colaborar para que ambas as nações se beneficiem", respondeu Xi.
Analistas interpretaram a conversa como o primeiro passo de uma série de tentativas de aparar arestas entre as duas potências. "Quando se trata de EUA e China, as diferenças são tão grandes que o toque pessoal não consegue muita coisa", disse Matthew Goodman, ex-conselheiro de segurança nacional nos governos de Barack Obama e George W. Bush.
Outros apontaram que as expectativas em relação ao encontro já eram baixas. Mais do que construir uma colaboração, Biden e Xi tentaram encontrar maneiras de não agravar as hostilidades. "A cúpula serviu para evitar uma deterioração ainda maior na relação entre os dois países", disse Wang Huiyao, diretor do Centro para a China e Globalização, de Pequim. (Com agências internacionais)
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>