Muito se falou e se escreveu nos últimos dez dias, depois que o deputado federal Jair Bolsonaro, em um dos quadros do CQC, na TV Bandeirantes, fez declarações em que acabou acusado de racismo e homofobia por outros parlamentares e entidades da sociedade civil. Vale algumas considerações a respeito deste caso, que envolve o capitão pára-quedista do Exército Brasileiro, deputado federal em seu sexto mandato e que nunca pecou por excesso de zelo.
As declarações de Bolsonaro, que fez ataques a negros e homossexuais, são bastante polêmicas e, à primeira vista, geraram a ira de diversos segmentos da sociedade, principalmente setores que sofrem os mais diferentes tipos de discriminação. A postura do parlamentar, para boa parte da população, é realmente indefensável. Difícil encontrar quem admita suas ideias. Porém, ele não pode ser massacrado, como se ensaia fazer, por ter emitido opiniões sobre o que pensa.
Muita gente não se deu conta, mas ao se tentar calar o discurso de Bolsonaro, admite-se diretamente a volta imediata da censura no país. É o fim da liberdade de expressão. A grande maioria da população pode até execrar suas declarações, mas ele tem o direito, a liberdade de emiti-las. Se alguém não gosta do que ele fala, abra o debate, contraargumente, deixe de votar nele ou em pessoas que comungam deste tipo de pensamento. Mas calá-lo ou reprimi-lo por dizer o que pensa, jamais.
Aliás, aos poucos, de diferentes formas, essa ideia de que é possível cercear o direito à liberdade de expressão volta à tona. Algumas vezes, vem – como no caso Bolsonaro – travestida de certo moralismo, como se estivessem defendendo o direito das minorias, quando na verdade, prega-se nada mais do que a censura.
Hoje, condena-se alguém que ataca negros e homossexuais. Amanhã, dependendo de quem estiver no poder, a partir deste ponto de vista, precisaremos aceitar que calem quem gosta do vermelho ou do amarelo, caso essas cores não sejam do agrado de quem esteja dando as cartas naquele momento. O exemplo pode até chocar e gerar mais controvérsias ainda, mas precisamos dizer não a qualquer tentativa de admitir o fim da liberdade de expressão. E ficar muito atentos a todo tipo de movimento que se faça neste sentido. Não concorde com Bolsonaro. Mas ele tem o direito de falar.