O dólar à vista encerrou a sessão desta quarta-feira, 21, em queda de 0,59%, cotado a R$ 4,7678, com mínima a R$ 4,7628 ao longo da tarde, em meio a máximas do Ibovespa e ao aprofundamento das perdas da moeda americana no exterior. Operadores voltaram a relatar entrada de recursos estrangeiros para a bolsa doméstica diante de sinais de crescimento mais forte da economia brasileira neste ano. Espera-se que o Comitê de Política Monetária (Copom) anuncie hoje à noite manutenção da taxa Selic em 13,75%, mas abra a porta para o início de um ciclo de cortes a partir do segundo semestre.
Lá fora, o índice DXY – termômetro do comportamento da moda americana em relação seis divisas fortes – renovou mínimas à tarde e flertou com o rompimento do 102,000 pontos, com ganhos expressivos frente ao euro, na esteira de falas mais duras de dirigentes do Banco Central Europeu (BCE). O índice de preços ao consumidor (CPI) no Reino Unido subiu 8,7% em maio (leitura anual), acima da previsão (8,4%). O dólar também caiu na comparação com a maioria das divisas emergentes e de países exportadores de commodities, em dia de alta das cotações do petróleo. O contrato do tipo Brent para agosto subiu 1,61%, a US$ 77,12 o barril.
"O real se aprecia com essa tendência de dólar mais fraco no exterior. Ainda há dúvidas sobre os próximos passos do Fed, que parece aguardar mais dados para saber se volta a elevar os juros. Por enquanto, o mercado continua com apetite por moedas emergentes", afirma o gerente de câmbio da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo.
Pela manhã, em depoimento a comitê da Câmara dos Representantes do EUA, o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, disse que "quase todos os dirigentes" do BC americano acreditam que "será apropriado elevar as taxas de juros um pouco mais até o fim do ano", uma vez que inflação segue bem acima da meta de 2%. À tarde, o presidente do Fed de Atlanta, Raphael Bostic, defendeu uma pausa no aperto monetário, alertando que altas adicionais dos juros podem comprometer o desempenho da economia.
Monitoramento do CME Group mostra que as chances de alta dos FedFunds em 25 pontos-base em julho chegaram a atingir 80% hoje. A aposta majoritária é a de que a taxa básica esteja na faixa entre 5,25% e 5,50% no fim do ano, acima, portanto, do intervalo atual (entre 5,00% e 5,25%).
Segundo o economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho, o dólar perde força globalmente diante da perspectiva de enfraquecimento da economia americana com a manutenção dos juros em níveis elevados até o fim do ano, após o Fed provavelmente encerrar o ciclo de aperto com uma alta de 25 pontos-base em julho.
"O risco de uma alta mais forte dos juros nos EUA praticamente já não existe mais, porque a inflação parece que já atingiu seu pico. Isso diminui muito a chance de abertura da curva dos Treasuries, o que ajuda as divisas emergentes", diz Velho. "De outro lado, a perspectiva de juro alto por período prolongado prejudica a economia e enfraquece o dólar frente a outras moedas fortes".
O economista da JF Trust vê continuidade do fluxo de recursos para a B3 com investidores já se "antecipando" a uma redução da taxa Selic no segundo semestre, provavelmente em agosto. O apetite por ações locais deve manter a oferta de dólares nos mercado doméstico, abrindo espaço para nova rodada de apreciação do real.
"O cenário ainda é de queda do dólar. A dúvida é se ele pode romper os R$ 4,50. A aprovação do arcabouço no Senado já está precificada. A questão agora é a reforma tributária. Se tiver sinais de que não vai andar no Congresso, pode ter uma realização forte na bolsa e alta do dólar", afirma Velho.
Pela manhã, Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado aprovou o texto-base do projeto do novo arcabouço fiscal, com placar de 19 votos a favor e 6 contrários. Há possibilidade de que o projeto seja apreciado no plenário da Casa ainda hoje.