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Em entrevista, John Mayer debate sentimentos e o tempo

John Mayer diz ter gravada na memória a lembrança da apresentação realizada por ele no Rock in Rio de 2013. “Ver aquela multidão, cantando as minhas músicas. Aquilo, sim, foi transformador”, diz o músico norte-americano. Prestes a embarcar para o Brasil, em uma turnê que inclui cinco datas, ele falou à reportagem da casa onde mora, nas cercanias de Los Angeles. “Estou em um daqueles pequenos momentos de descanso antes de voltar para a estrada”, ele conta, ao telefone.

Disposto, Mayer se diz empolgado em voltar ao Brasil com o novo disco, o sétimo dele, chamado The Search for Everything. Dono de canções emocionais, o músico (e galã nas horas vagas) é conhecido por atingir aquele buraco às vezes vazio no lado esquerdo do peito. Preenche com desespero, amor, desolação e o que mais vier, sempre com altas doses de sacarose. E, no papo, diz que é isso que o interessa, mesmo. Investigar o amor e entender o presente. Confira:

Em 2015 foram dois shows no Brasil. Agora, serão cinco. Podemos dizer que algo por aqui chamou a sua atenção, não é?

(Risos). É verdade. Eu lembro de ter feito aquele show do Rock in Rio. E senti que todas as canções que executava lá estavam sendo completamente compreendidas, entende? Isso, às vezes, não acontece ou não é em todas as canções. Lembro que até músicas como Dear Marie (do disco Paradise Valley, de agosto de 2013) eram 100% aceitas. Isso mexeu comigo profundamente. Em São Paulo foi assim também.

Em entrevistas com bandas como Aerosmith e Bon Jovi, os artistas contavam da dificuldade de incluir canções novas no repertório dos shows deles. Há uma diferença muito gritante na relação do público com as canções novas e antigas?

Quando você tem tantos discos, há muitas músicas que você poderia tocar. Eu fico torcendo para que eles queiram. Quando você tem a resposta como eu tive no Rio e em São Paulo, eu me libertei. Às vezes, diante de um público desinteressado, eu penso: “Deveria tentar outra coisa?”.

Dei uma olhada no seu repertório dos shows recentes, há cinco músicas do novo disco.

Sim, exato! Não é sempre que isso acontece. Em algumas turnês, incluí quatro ou cinco músicas dos discos mais recentes e a resposta não era boa. Reduzi para três. Às vezes, uma canção não funciona. Lembro que quando lancei Battle Studies (2009) as músicas não funcionavam ao vivo. Tive que voltar, na época, para o repertório do disco Continuum (2006). E percebi que as músicas desse álbum funcionariam ao vivo também.

Como equilibrar?

É um balanço delicado. Acho que a minha meta, para este ano e o próximo, é deixar de ser aquele “show de hits” para ter um “show de catálogo”, entende? O Pearl Jam fez isso muito bem. Eles deixaram de se apoiar nos hits para ser capazes de percorrer o catálogo de músicas deles. É o balanço entre ser familiar e interessante. Ser interessante é o que faz algo se tornar familiar. E o familiar é o que faz algo ser interessante. Seja hit ou não.

Há, nas suas canções, uma sensação de se estar diante de algo: uma mudança por vir, um amor que acabou, algo que vai embora. São como momentos prévios ao caos. Você também tem essa sensação sobre suas músicas?

(Pausa) Acho que sim. Desde a minha primeira música, faço isso. Sabe, internalizo muito as coisas, deixo as coisas bem profundas dentro de mim. Então, ao compor, vou nesse lugar para procurar essas histórias, esses sentimentos. Vou investigando atrás dessas coisas. Mas há duas coisas que tento entender, mas de fato ainda não consigo: o tempo e o amor. Entende? A ideia de alguém não estar mais. De o presente já se tornar passado. Acho que, talvez mais velho, eu seja capaz de entender. Às vezes, eu penso que gostaria de repetir aquele dia que acabei de viver. Mas ele já está lá, no passado.

Para encerrar. Três amigas minhas me pediram para mandar um beijo ao saber dessa entrevista. Isso é incomum. E me fez pensar na sua capacidade de atingir, com as canções, um lugar muito profundo nas pessoas. Com quase 20 anos de carreira, chegar a essas canções que tocam, é mais fácil?

(Risos). Depois de escrever tantas músicas, é difícil encontrar uma nova ideia. O que o tempo me ajudou é que, agora, tenho a experiência. Então, quando chego à ideia, consigo usá-la de uma forma melhor. É mais fácil e mais difícil, ao mesmo tempo. Ah, e mande um beijo para as suas amigas.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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