Variedades

Em Locarno, Rita Pavone fala de seu retorno aos palcos

“Se eu tenho algum arrependimento, é a de não ter feito carreira nos Estados Unidos. É preciso aproveitar sempre as oportunidades que surgem. E eu cheguei a ficar em 26º lugar na parada de sucesso americana. Mas meu pai, na época, não teve a visão de que seria um bom passo me mandar para a América.” Com esta declaração, a cantora italiana Rita Pavone respondeu ao público que lotava o Forum, espaço dedicado aos convidados de honra do Festival de Locarno, que ocorre nesta semana na Suíça.

Aos 68 anos, Rita, que ganhou o mundo nos anos 60 com hits como Dattemi un Martello e Non ho l.eta e Io che amo solo te, voltou há pouco ao cenário internacional musical apos passar 19 anos sem gravar um álbum de canções inéditas. “Estava vivendo há um tempo na Espanha. Fazendo outras coisas “, contou a cantora, que em setembro de 2013 lançou um novo single, I want you with me, e em outubro lançou o novo duplo Master.

Rita, que tem casa na Suíça, onde também morou por vários anos, é convidada de honra do festival e nesta quinta-feira, 7, além do bate-papo com o público, participa da sessão especial de Non stuzzicate la zanzara, de 1967, que é exibido hoje e faz parte da homenagem que o festival dedica este ano ao ator e diretor italiano Giarncarlo Giannini, que também vem ao festival e recebe o Excellence Award Moet & Chandon no dia 12.

O longa dirigido por Lina Wertmüller é estralado por Rita e por Giannini e marcou o primeiro de muitos que o ator fez em parceria com a diretora italiana de origem suíça. Foi com um filme dirigido por Lina, Pasqualino Settebellezze, que Giannini foi indicado ao Oscar de melhor ator em 1977. ” Trabalhar com ele foi incrível. Eu era jovem e também estava aprendendo muito. Sem contar que a Zanzara é um musicarello (em tradução livre, espécie de musical leve, estilo que marcou época no cinema italiano) delicioso “, completou a cantora, que também gravou um clipe de I want You With Me em outubro de 2013.

Rita contou ainda que se surpreendeu com a acolhida calorosa que teve do público ao voltar a cantar. “Há anos eu só cantava no chuveiro. Achava que meu tempo já tinha passado. Mas quando Renato Zero, um dos rapazes que trabalharam no Studio Uno, me chamou para dividir o palco em um show dele em 2012, e minha participação causou um super alvoroço, percebi que era hora de tentar de novo “, relembrou ela. ” Fizemos um pot-pourri. E o público foi ao delírio. Senti um afeto incrível. Foi muito especial”, completou a cantora, que contou também que sempre quis gravar um disco totalmente em inglês, mas que o ritmo da carreira nunca permitiu. Mas foi durante o show do cantor Gianni Morandi, em outubro de 2013, na Arena de Verona, que o retorno de Rita aos palcos foi definitivamente oficializado. Diante de uma multidão saudosa, a dupla recordou sucessos como Fortissimo e La partita di Pallone e levou a plateia ao delírio. “Eu queria ter parado, mas percebi que não consigo. A musica esta no meu DNA “, assumiu Rita, que em Verona apresentou internacionalmente I Want You With Me.

“Meu pai era marinheiro. E um de seus amigos, também marinheiro, me trazia os discos americanos. Eu ouvia Tony Bennett, Burt Bacharach e morria de vontade de fazer musica como eles. Mas nunca consegui gravar este tipo de canção. Finalmente estou tendo oportunidade de cantar estas musicas em inglês e também em italiano”, relatou a cantora, que prepara para novembro uma nova turnê. “Canções que estavam há tempos na gaveta. Poderia ate tê-las gravado antes, mas acho que não seria madura para interpretá-las como hoje.”

Rita, que participou de varias edições do Festival de San Remo, declarou ainda que, apesar de não ser contra os reality shows musicais que se multiplicam nas TVs de todo o mundo, acha que o formato não dá tempo aos jovens artistas de desenvolver seus talentos antes de enfrentarem tamanha exposição. “Ao mesmo tempo em que estes programas revelam nomes, e causam um grande impacto de mídia, não há tempo para que os jovens cresçam interiormente. Ao primeiro obstáculo, caem e se tornam frustrados”, analisou ela. “Minha geração lutou muito. Foi às ruas, lutou por seus direitos. Quando chegávamos à TV, dávamos valor a esta conquista. Hoje os jovens têm isso automaticamente e esperam que tudo permaneça assim.”

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