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Em meio a escândalos em Hollywood, Globo de Ouro inicia temporada de prêmios

Há quem aponte o estrondo do filme Mulher-Maravilha como o pontapé de tudo isso que se vê em Hollywood – uma super-heroína, enfim, ocupou o lugar central nos grandes pôsteres espalhados pela Times Square. Outros vão direto na fonte, nas primeiras acusações de assédio sexual contra o superprodutor Harvey Weinstein, responsável por dar força a mulheres e homens – principalmente elas – para expor o que há de sórdido nesse show biz. Há muito a ser feito, é verdade, mas o sangue dos abusadores – metaforicamente falando, é claro – já escorre pela calçada da fama e fez tremer a estrutura do letreiro mais famoso do mundo. A cerimônia de entrega do Globo de Ouro, realizada neste domingo, 7, contudo, é o início desse novo momento.

A festa – transmitida no Brasil pelo canal por assinatura TNT a partir das 23h – terá o comando do ator e comediante norte-americano Seth Meyers, mas o protagonismo deve ser dos protestos e dos discursos firmes. É o primeiro grande encontro das figuras mais importantes do mercado do cinema – e da TV -, com a chance de alcançar milhões de televisores ao redor do mundo. Essa chance não deve, nem vai, ser desperdiçada. O Globo de Ouro de 2018 não será como do ano anterior. A começar pela iniciativa Times Up, que pede às mulheres para vestirem preto na cerimônia.

Em 2017, consagraram-se La La Land – Cantando Estações e Moonlight – Sob a Luz do Luar, os dois filmes que seguiram parelhos na disputa pelo Oscar de melhor longa, vencido pelo segundo, após uma patacoada digna de uma esquete dOs Trapalhões. No ano passado, por exemplo, Casey Affleck, de Manchester à Beira-Mar, levou o Globo e o Oscar como melhor ator. Na época, a atriz Brie Larson fez um protesto silencioso porque o irmão mais novo de Ben Affleck tinha, contra si, acusações de assédio sexual de duas mulheres. Mas só. Em 2018 uma cena como essa jamais seria cogitada. Ainda bem.

É o ano em que as injustiças tentam ser equilibradas. Embora Corra! concorra na esdrúxula categoria de “musical e comédia”, o filme coloca o dedo em uma ferida ainda aberta no mundo e nos Estados Unidos, a segregação racial. Alternando entre ironia e o preconceito escancarado, o longa de Jordan Peele é uma fantasia tão real que atormenta. No lado dos filmes classificados como drama, Me Chame Pelo Seu Nome levanta a questão do amor entre dois rapazes de maneira sublime e delicada – o Globo, contudo, deve ficar com os figurões The Post – A Guerra Secreta, de Steven Spielberg e estrelado por Meryl Streep e Tom Hanks, ou Dunkirk, o épico de guerra de Christopher Nolan.

Tormenta mental também produz a série The Handmaids Tale, baseada no romance O Conto da Aia, de Margaret Atwood, a verdadeira bicho-papão dessa temporada de premiações, quando o assunto for TV. Nesse futuro distópico, as mulheres ainda férteis são poucas e são usadas exclusivamente para reprodução. O mundo vive em um regime totalitarista, de extremismos religiosos e agressões contra as mulheres. Um mundo no qual não houve tempo para o surgimento do filme da Mulher Maravilha ou das acusações contra alguém como Weinstein. Portanto, que o Globo de Ouro faça valer a realidade de hoje, cada vez mais distante da obra de Atwood.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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