Donald Trump tornou-se nesta sexta-feira, 24, o primeiro presidente americano a discursar na Marcha pela Vida, manifestação anual antiaborto dos Estados Unidos. Em meio a uma batalha no Senado contra o impeachment, Trump aproveitou o evento para fortalecer seus laços com a base conservadora e cristã evangélica em um ano de eleições presidenciais.
Até então, nenhum presidente americano havia participado da marcha. A manifestação saiu às ruas pela primeira vez há 47 anos. Ela é realizada em Washington para marcar o aniversário da histórica decisão da Suprema Corte dos EUA – Roe v Wade -, que tornou o aborto legal no país. Em 22 de janeiro de 1973, os juízes determinaram que a Constituição deve proteger a liberdade da mulher que optar por interromper a gravidez.
Todos os anos, desde que se tornou presidente, Trump saúda e recebe na Casa Branca os representantes na Marcha pela Vida. Agora, em ano eleitoral e no meio de uma batalha contra o impeachment, ele decidiu participar pessoalmente.
Seus críticos o acusaram de usar a marcha para tentar tirar as atenções do processo de impeachment. Ilyse Hogue, presidente da Naral Pro-Choice, ONG que defende o direito de escolha da mulher, disse que a atitude foi um "ato de desespero". Alexis McGill Johnson, que dirige o programa de planejamento familiar Planned Parenthood, acusou Trump de conduzir uma "agressão à nossa saúde e aos nossos direitos".
Trump se aproximou do movimento antiaborto por meio da nomeação de juízes conservadores para a Suprema Corte, que os ativistas esperam que ajudem reverter a lei. O presidente discursou antes que os participantes iniciassem a marcha, que saiu do Mall e seguiu até a sede da Suprema Corte.
Muitos se juntaram a ela no meio do caminho, usando bonés com a frase "Make America Great Again", mote da campanha de Trump, e levando cartazes em favor do presidente. Trump acenou para a multidão ao som da canção "Proud to be an American", do cantor country Lee Greenwood. Alguns gritavam "Mais quatro anos!".
"Todos nós aqui hoje compreendemos uma verdade eterna. Toda criança é um presente precioso e sagrado de Deus", disse Trump. "Juntos, devemos proteger, valorizar e defender a dignidade e a santidade de toda vida humana."
O presidente citou as iniciativas antiaborto de seu governo, incluindo o restabelecimento de uma política que barra o financiamento dos EUA a ONGs que oferecem aconselhamento sobre aborto em outros países. O governo também acabou com os subsídios a organizações que recebiam fundos federais para facilitar os procedimentos.
Trump também vinculou a questão do aborto à liberdade religiosa, observando como o serviço social e de saúde dos EUA estabeleceu regras que as autoridades dizem proteger os trabalhadores médicos de violar sua consciência e se recusarem a realizar um aborto.
O presidente também ressuscitou uma polêmica envolvendo o Estado de Virgínia, no ano passado, que se transformou em manchetes nacionais. Em janeiro de 2019, os republicanos divulgaram um vídeo da deputada democrata Kathy Tran, de Virgínia, reconhecendo que seu projeto de lei para reduzir as restrições ao aborto tardio permitiria realizar o procedimento até a hora do parto, caso a vida ou a saúde da mãe esteja em risco.
Conservadores de todo o país atacaram o governador de Virgínia, Ralph Northam, e outros democratas do Estado, que defenderam o projeto. "Adoramos a comunidade de Virgínia, mas o que está acontecendo? O que está acontecendo, Virgínia?" disse Trump. "O governador afirmou que executaria um bebê após o nascimento."
Na verdade, o projeto de lei a que Trump se referia não foi aprovado e nem foi reintroduzido este ano. Os ataques do presidente aos democratas do Estado têm uma explicação simples. Virgínia deixou de ser território republicano e hoje tem um governador e as duas Casas do Legislativo dominadas pelos democratas.
Ainda nesta sexta-feira, o vice-presidente Mike Pence e sua mulher, Karen, se dirigiram à multidão em Washington por vídeo transmitido de Roma, onde ele acabara de visitar o papa Francisco. "O movimento pró-vida tem um grande defensor em Donald Trump", disse Pence. "Graças a seu apoio e à liderança de Trump, a vida está vencendo na América de novo." / COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS