Estadão

Em Mianmar, junta militar estende estado de emergência até 2023

Seis meses depois de os militares de Mianmar darem um golpe que pôs fim a 11 anos de uma lenta transição democrática no país asiático, o chefe da junta, general Min Aung Hlaing, anunciou neste domingo que o estado de emergência nacional vai vigorar até agosto de 2023.

"Cumpriremos as disposições do estado de emergência até agosto de 2023 – disse ele em um discurso transmitido pela televisão. "Garanto o estabelecimento de uma união baseada na democracia e no federalismo."

Mais tarde, o Conselho de Administração do Estado, como a junta se autodenomina, anunciou a formação de um novo governo interino com o general Min Aung Hlaing como primeiro-ministro. "Desde o início, sabíamos que eles não cumpririam suas promessas", disse Aung Thu, líder da resistência nacional ao golpe. "Se eles prorrogaram o estado de emergência até agosto de 2023, devemos continuar a protestar até que, de alguma forma, eles caiam."

Desde o golpe de 1º de fevereiro, as autoridades militares enfrentaram meses de protestos, greves que paralisaram os setores público e privado e o ressurgimento de conflitos étnicos nas fronteiras, classificados como terroristas pela junta.

Ao menos 940 pessoas morreram nas mãos das forças de segurança de Mianmar, de acordo com um registro mantido por um grupo de monitoramento que acompanha de perto os assassinatos. Mais de 5.400 pessoas estão detidas, incluindo todos os membros da alta liderança eleita de Mianmar.

Aung San Suu Kyi, a líder civil de 76 anos do país, foi acusada de vários crimes, incluindo sedição, que podem mantê-la presa pelo resto de sua vida. Seu partido, a Liga Nacional pela Democracia, que conquistou dois mandatos em eleições durante o curto período em que o Exército dividia o poder com os civis, entre 2010 e este ano, foi dissolvido.

<b>Eleições em 2023</b>

O chefe da junta militar birmanesa, Min Aung Hlaing, no poder desde o golpe de fevereiro que derrubou Aung San Suu Kyi, prometeu realizar eleições "entre agora e agosto de 2023" em um discurso neste domingo (1º) para marcar os seis meses do golpe. "Estamos trabalhando para estabelecer um sistema multipartidário democrático", declarou o ex comandante do exército, prometendo novamente realizar eleições "até agosto de 2023".

Em 26 de julho, a junta militar anulou os resultados da eleição legislativa de novembro de 2020, vencida por grande maioria pela Liga Nacional para a Democracia (NLD) de Aung San Suu Kyi, alegando que mais de 11 milhões de casos de fraude foram detectados, uma acusação que o partido rejeita.

"Os votos foram fraudados pelo NLD, que abusou indevidamente de seu poder executivo", declarou Min Aung Hlaing neste domingo. Antes do golpe, o general já era um pária para as capitais ocidentais devido à repressão sangrenta de seus homens contra a minoria muçulmana rohingya.

Desde o golpe, foi alvo de novas sanções. "Prometo lutar contra essa ditadura enquanto durar" e "Não vamos nos ajoelhar sob as botas dos militares", escreveram jovens opositores nas redes sociais neste domingo em protesto contra a junta militar.

Em Kaley (oeste) houve uma manifestação em homenagem aos presos políticos. "As canções dos detidos são uma força para a revolução" podia ser lido em uma faixa. Mas a maioria dos birmaneses permanece trancada em suas casas, apavorada com a violência das forças de segurança e a disseminação do coronavírus.

O Reino Unido alertou a ONU que metade da população, cerca de 27 milhões de pessoas, pode se infectar com a covid-19 nas próximas duas semanas, chamando a situação de "desesperadora".

Em seis meses, 940 civis morreram, deles 75 menores, centenas desapareceram e mais de 5.400 estão detidos, segundo uma ONG.

Aung San Suu Kyi, 76 anos, inicia um sétimo mês em prisão domiciliar. Acusada de vários crimes (importação ilegal de walkie-talkies, violação das restrições relacionadas com a pandemia de corrupção, sedição), ela corre o risco de ser sentenciada a vários anos na prisão. (Com agências internacionais)

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