O ex-reitor da USP João Grandino Rodas preferiu enviar uma nota em vez de conceder uma entrevista sobre a situação atual da universidade solicitada pelo jornal O Estado de S. Paulo. Nela, Rodas se defende das acusações feitas pela atual gestão e culpa a recessão do País pela crise na universidade.
“Os atuais dirigentes da USP propalaram que a universidade estava falida e me indicaram como o responsável por isso. Entretanto, isso não procede. A USP, Unesp e Unicamp têm autonomia financeira e recebem certa porcentagem do ICMS. Obviamente, os impostos aumentam e diminuem de acordo com o desempenho econômico do País; e tem diminuído em razão da recessão.
No início da gestão reitoral 2010/2013, a USP possuía, em bancos, mais de R$ 3 bilhões de dinheiro orçamentário não utilizado. Como universidade não é banco, aplicá-lo adequadamente era dever legal do administrador. Acontece que a administração da USP é composta de pessoas físicas e colegiadas que devem ser consultadas para que o orçamento possa ser gasto. A gestão anterior (da qual eram pró-reitores os atuais reitor e vice-reitor da USP) decidiu aplicar parte desse dinheiro em melhora de infraestrutura (prédios, laboratórios, salas de aula, etc.); e parte no estabelecimento de quadro de carreira do pessoal administrativo, na implantação da progressão horizontal dos docentes, bem como no financiamento de pesquisa (à pedido do atual reitor, então pró-reitor de pesquisa).
Ao terminar meu mandato, da citada reserva, cerca de 1 bilhão e meio estava comprometida com pagamentos futuros; enquanto 1 bilhão restava livre. Tudo isso foi feito com a autorização dos órgãos colegiados indicados pelo Estatuto ou Regimento da USP. Tanto que não houve nenhuma observação, nem dos pró-reitores, nem dos diretores de unidade, durante quase 4 anos. Com a diminuição do recolhimento do ICMS foi necessário lançar mão das reservas orçamentárias, como em outras administrações havia sido feito. Qual o problema? Esse dinheiro existe para quê? Para dar lucro aos bancos? Por outro lado, o nível de endividamento das demais universidades estaduais paulistas é semelhante à da USP.
A atual administração, contudo, preferiu escudar-se no desconhecimento (embora quem esteve na alta administração da USP, se não tomou conhecimento, no mínimo, pecou por omissão), decretou que a USP estava falida e lançou uma cruzada, com características do terror, pós-revolução francesa, para buscar um bode expiatório para imolar; em conjunto com uma proposta de desmonte da instituição. A verdade, entretanto, sempre triunfa, forçada pelo Tribunal do Trabalho, a USP acaba de aprovar a reposição salarial da inflação, com 5 meses de atraso (agora há dinheiro para pagar?). E um alto dirigente da USP foi repreendido, quando atribuía, no Tribunal, a crise financeira a mim.
Espero que o fervor messiânico e o afã de refundar a USP diminua e ela possa ser administrada como merece.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.