Neste sábado, dia 26, os quatro protagonistas da novela Quanto Mais Vida, Melhor! passam por uma mudança inusitada. Neném (Vladimir Brichta) vira Paula (Giovanna Antonelli), enquanto Paula vira Neném. E Guilherme (Mateus Solano) vira Flávia (Valentina Herszage). E Flávia vira Guilherme.
Parece complicado, porém basta lembrar do filme Se Eu Fosse Você (2006), no qual os personagens de Tony Ramos e Glória Pires passaram pelo mesmo recurso cômico.
Essa mudança, prevista na sinopse do autor Mauro Wilson, em sua primeira novela solo, será mais uma etapa na evolução dos protagonistas na luta contra a morte – os quatro se envolveram em um acidente de avião no primeiro capítulo e ganharam mais uma chance de viver, sob a condição de aproveitarem bem a nova oportunidade.
Em conversa com o <b>Estadão</b>, os atores Giovanna Antonelli e Vladimir Brichta contaram como foi assumir o papel um do outro e falaram sobre os rumos que a comédia segue daqui para frente – a troca de personalidades vai durar quase até fim do folhetim, em maio, e esse será o grande desafio da produção.
Giovanna Antonelli fala sobre a transformação.
<b>Um dos exemplos mais marcantes desse tipo de situação pela qual seus personagens vão passar na novela é o filme Se Eu Fosse Você, com Glória Pires e Tony Ramos. O longa foi uma inspiração para você?</b>
Certamente, as interpretações icônicas de Glória Pires e Tony Ramos são sempre inspiradoras, mas, nesse caso, não teve como não pensarmos neles. A mudança de corpos é bem particular porque o que precisei mesmo foi mergulhar nos gestos do Vladimir. Às vezes, eu estava gravando e o Allan Fiterman (diretor) falava: "Desceu a Paula, volta, Neném!". Foi muito divertido. As pessoas olhavam para a gente e pensavam: da cabeça de vocês deve estar saindo fumaça. Era uma concentração enorme para dar conta daquilo tudo. Foi demais.
<b>O que mudou na sua interpretação? Tom de voz, gestos?</b>
A Paula tem elementos marcantes. Ela fala com as mãos, mexe os cabelos, atira objetos longe. O Neném tem aqueles trejeitos mais masculinos, é bem mais desleixado que ela. Cada um tem um jeito de se alongar na hora em que acorda. Foi muito difícil imitar os tiques do Vlad, que são tão orgânicos para ele. Às vezes, eu estava fazendo uma cena e o Vlad falava: "Ih, eu não pisco o olho assim, não!". Ou, quando ele estava fazendo alguma coisa, eu dizia: "Isso não é da Paula, não!". Essa ajuda, esse cuidado que os quatro tiveram um com o outro, além da direção, foi muito importante. O público pode esperar bons momentos de risada, assim como eu, pois me diverti com as cenas.
<b>Você declarou que há dublê nas cenas. Mas também disse que tentou aprender um pouco de futevôlei para essa fase de inversão de papéis. Como foi essa experiência?</b>
Eu tenho uma dublê maravilhosa. Ela é quem arrasa nas embaixadinhas (risos). Eu me matriculei no futevôlei, porque precisava aprender a jogar bola e, quando cheguei lá, não sabia o que fazer. Nos intervalos de gravação, eu ficava treinando, fazendo embaixadinha, fiquei aprendendo os preceitos básicos para tentar ajudar a dublê. Algo completamente inusitado. Jogar bola é algo que jamais pensei em fazer na vida.
Quanto Mais Vida, Melhor! já foi toda gravada antes de ser exibida, por conta da pandemia. Para vocês atores, isso muda algo?
Muda o fato de a gente ter feito uma novela inteira sem trocar a experiência com o público. Isso, em novela, é sempre muito forte, importante e rico. Mas fizemos do limão uma limonada. Transformamos nossa equipe nos nossos primeiros espectadores e a resposta foi muito positiva.
Vladimir Brichta comenta a mudança.
<b>Como essa "troca de corpo" se dará nos personagens, e como vocês atores trabalharam nisso?</b>
Já era algo previsto na novela. Então, antes de as gravações começarem, nós (os quatro atores) tivemos uma preparação na qual estabelecemos alguns códigos corporais que nos auxiliaram. O restante desse trabalho viria da observação do que o colega estaria fazendo. O inesperado foi que a novela não estreou quando a estávamos gravando, como sempre acontece. Então, essa observação, ao menos da minha parte, foi feita por meio de algumas cenas já prontas que o diretor me mostrava ou quando eu estava em cena com a Giovanna – o que não é o ideal. O melhor é observar o que a tela imprime. No set, algumas características da interpretação podem passar batidas.
<b>Vocês tiveram cuidado ou preocupação para não caírem na caricatura?</b>
A novela é uma comédia, mas não é farsesca. Não queríamos fazer uma forma caricatural no sentido pejorativo. Mas, claro, quando se troca de corpo, um homem fazendo uma mulher, uma mulher fazendo um homem, a própria historiografia do cinema, do teatro, da televisão, mostra que esse é um artifício do humor inevitável. A ideia da novela é essa, que seja um recurso cômico. Mas não mandamos a coerência dos personagens para as cucuias – a história precisava andar. Eu tive a preocupação de não deixar os personagens que contracenam com o Neném idiotizados. Não poderia expô-los ao ridículo. Esse foi o meu limite.
<b>Sem querer que você dê um spoiler, mas o mistério da novela é sobre quais dos quatro personagens principais morrerão de fato, depois de uma segunda chance da morte. O que você pode falar sobre como isso se conduzirá até o final da trama?</b>
O que o Mauro (Wilson, autor) propõe em seu texto é muito interessante. Quando a morte fala para os quatro "um de vocês só tem um ano de vida", todos passam a agir como se fossem ele, o que deu um caráter de urgência para todos. E, com a contagem regressiva, isso vai mudando ao longo da novela. Os personagens do Mateus (Solano) e da Giovanna são mais egoístas. Então, eles têm um aprendizado maior. O Neném vai no sentido do vento. A Flávia (Valentina Herszage) faz escolhas erradas, e precisa entender esse processo. Todos vão convergir para um momento em que será preciso fazer uma mudança de vida ou eles perderão seu legado.
<b>A novela está indo ao ar com todos os capítulos gravados. Isso trouxe a discussão sobre obra aberta ou fechada. Qual sua opinião sobre isso?</b>
É curioso. Em outras novelas que fiz, era muito comum ouvir reclamações sobre o excesso de influência do público e como o autor levava essa opinião em conta para realizar mudanças. Achávamos isso ruim. De alguma forma, pagamos um pouco a língua por pensar que dá para tratar uma novela como uma obra fechada. Deu certo agora porque foi o possível de ser feito naquele momento. Mas, quando o autor, atores, diretor, cenógrafo, sonoplasta veem a novela no ar, enquanto ela é feita, há mais possibilidade de se fazer correções – e elas são sempre necessárias. Tendo as duas experiências, agora posso dizer que o melhor jeito era como fazíamos antes da pandemia. Ver a novela no ar, comentar com seus colegas, discutir o que fazer no dia seguinte.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>