O mercado de câmbio doméstico trabalhou em marcha lenta nesta terça-feira, 21, véspera das decisões de política monetária aqui e nos Estados Unidos – eventos que ganharam ainda relevância diante dos temores recessivos provocados pelos problemas de liquidez dos bancos médios americanos. Com volume reduzido e trocas de sinais ao longo da sessão, o dólar encerrou o dia cotado a R$ 5,2457, em alta 0,05%. No exterior, a moeda americana apresentou comportamento misto tanto em relação a divisas fortes quanto emergentes.
Pela manhã, o dólar chegou a superar pontualmente o teto de R$ 5,25 e registrou máxima a R$ 5,2544 (+0,22%), em meio a críticas do presidente Lula ao nível da taxa de juros e à informação de que a divulgação da proposta do novo arcabouço fiscal, prevista para esta semana, ficará para depois da visita presidencial à China, de 26 a 31 de março. Na mínima, nos primeiros negócios do pregão, o dólar desceu até R$ 5,2179 (-0,48%).
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, havia dado sinais de que as regras fiscais poderiam vir a público antes da decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), no início da noite desta quarta-feira, 22. De posse das novas diretrizes para gestão das contas públicas e diante de deterioração do mercado de crédito, aqui e lá fora, especulava-se que o colegiado do BC poderia acenar no comunicado com redução da taxa Selic ainda no primeiro semestre.
Fontes ouvidas pelo Estadão/Broadcast afirmaram que o presidente Lula adiou a divulgação do arcabouço porque pretende encontrar um mecanismo para ampliar os gastos com saúde e educação. O presidente ontem disse que recursos destinados a essas áreas não podem ser classificados como "gastos". Mais cedo, Haddad afirmou que as novas regras fiscais serão apresentadas "por ocasião da remessa" do projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2024 ao Congresso, cujo prazo legal é 15 de abril. O ministro da Casa Civil, Rui Costa, disse à tarde, em entrevista à GloboNews, reiterou que a nova será apresentada em meados de abril.
O analista de câmbio da corretora Ourominas, Elson Gusmão, observa que investidores mostraram apetite muito reduzido por negócios, com receio de exposição mais elevada na véspera de reunião do Federal Reserve e do Copom. "Havia expectativa em relação ao novo arcabouço fiscal, mas a divulgação acabou sendo adiada para o mês que vem. Apesar de o governo pressionar novamente o BC por causa dos juros, a perspectiva é de manutenção da Selic", afirma Gusmão, ressaltando que a taxa de câmbio trabalha em uma faixa mais estreita, entre R$ 5,20 e R$ 5,25.
O Bank of America (BofA) diminuiu a sua projeção para a taxa Selic no fim de 2023 de 11,75% para 11,0%, antecipando a expectativa de início do ciclo de cortes dos juros – hoje em 13,75% – de agosto para maio. A revisão de cenário leva em conta o aperto das condições de crédito do Brasil, embora sua concretização ainda vá depender dos termos do novo arcabouço fiscal, segundo o banco.
No exterior, o índice DXY – termômetro do comportamento do dólar frente a seis divisas fortes – operou entre ligeira queda e estabilidade, com perdas da moeda americana frente ao euro e alta na comparação com o iene. Entre divisas emergentes e de exportadores de commodities, com destaque para os ganhos de dois principais pares do real, o peso mexicano e o chileno.
Monitoramento do CME Group mostra quem são amplamente majoritárias as apostas de que o Federal Reserve vai anuncie amanhã à tarde uma elevação da taxa básica americana em 25 pontos-base. Na semana passada, sob impacto dos temores recessivos despertados pelos problemas no setor bancário, a possibilidade de pausa do processo de alto de juros chegou a rivalizar com a chance de novo aumento.