Variedades

Em projeto solo, Pedro Luís chama amigos

“Não mexe comigo que eu não ando só”, cantado por Maria Bethânia como um mantra, cai como uma luva para Pedro Luís. O cantor e compositor carioca está sempre bem cercado, na banda Pedro Luís e a Parede e no grupo Monobloco. São dois coletivos que ele leva adiante em paralelo – e que se misturam, já que, assim como Pedro, os integrantes da Parede também fazem parte do Monobloco.

E, agora em Aposto, seu primeiro DVD solo (lançado também em CD), o músico está novamente acompanhado, desta vez pela percussão de Paulino Dias e de seus convidados especiais: Nina Becker, Zélia Duncan, Martinho da Vila, Martnália, Bruna Caram, Duda Brack, João Cavalcanti e Cabelo. Mas é ele quem dá as diretrizes de seu trabalho, diferentemente dos coletivos, nos quais, claro, as decisões são tomadas em comum acordo. “É importante esse contraponto, isso também é um desafio, saio da zona de conforto. Me obrigo a estudar os instrumentos”, diz ele. Pedro, que assume voz, cavaco e violões em Aposto, conta que, desde o projeto, intensificou esses estudos, que passaram a ser diários. “Queria que fosse um processo mais rotineiro o da composição também. Minha ideia é migrar essa intensidade para isso”, garante o músico, que, por ora, não consegue colocar seu desejo em prática por conta das encomendas que, graceja ele, sua “padaria musical” recebe.

Para esse primeiro registro audiovisual solo, Pedro queria um formato que fugisse da tradicional apresentação em uma casa de shows com plateia em que os erros de gravação são limados na edição. Com direção de Bianca Ramoneda e Jorge Bispo, amigos do compositor, o show foi transportado para dentro do ateliê de seu outro amigo, o artista plástico Sérgio Marimba, que assina a direção de arte do DVD. Os materiais do dono do ateliê distribuídos pelo local funcionam como peças de cenário, vez por outra, miradas pelas câmeras. Há, sim, pessoas assistindo, mas poucas, entre amigos e alguns fãs, e elas estão espalhadas em diversos cantos, aleatoriamente. “Eu queria público, por causa da interação, as pessoas respondem, opinam, revelam o que está acontecendo”, justifica o músico. Tudo está exposto: as reações do público, o movimento nos bastidores, a performance de Pedro Luís.

E, logo que elas chegam ao espaço de show, são avisadas de que tudo o que for registrado ali está valendo, como um making of que vira a produção principal. Tudo está em cena, “num trabalho que acontece de forma coletiva”, alerta Bianca Ramoneda assim que o pequeno público vai se acomodando. “Foi um olhar sobre o processo: você não esconde o que saiu de errado, aqui está tudo à vista”, conceitua ele. “Foram quatro horas, desde as pessoas entrarem até a finalização do show.”

Para compor o repertório, Pedro Luís partiu de um show, intitulado Por Elas, que ele fez para homenagear as vozes femininas que gravaram canções de sua autoria, entre elas Roberta Sá, Elba Ramalho, Sandra de Sá, Preta Gil, Maria Rita, Adriana Calcanhotto e Zélia Duncan. Com o tempo, outras composições, também suas, foram agregadas ao roteiro.

A inédita Aposto, parceria dele com Lucky Luciano, dá título ao projeto. A música é inspirada nas experiências do próprio Pedro, ao constatar, muitas vezes, que as pessoas conhecem sua canção, mas não têm conhecimento que é dele. “Na hora que a luz acende/No tempo que o olho abre/O verbo pede passagem/E a música inicia/Te mostro aquilo que é nosso/E você não conhecia/Expresso minha alegria/Na surpresa do seu rosto”, diz a letra.

Pedro dá a própria interpretação à sua obra, a canções também suas que acabam ganhando versões praticamente definitivas na voz de outros – caso de Girassol (parceria com Da Gama, Toni Garrido, Lazão e Bino Farias), famosa com o Cidade Negra, e Miséria S.A. (dele), um dos sucessos da banda O Rappa. Para cantar junto com ele o samba Parte Coração, que ele compôs aos 18 anos – e quando teve finalmente a certeza que havia feito uma canção -, Pedro chamou a amiga Nina Becker. Em De Nós, recrutou a “parceira e ídala” Zélia Duncan, que canta e toca com Pedro e, segundo ele, se apropria tanto dessa canção inédita que parece dela. “Eu queria que ela estivesse perto.”

Também numa inédita, Samba de Cabôco, o músico aparece ladeado por Martnália e Martinho da Vila, filha e pai, unindo o despojamento e a tradição tal e qual a canção da qual participam. Samba de Cabôco está nos extras do DVD, gravados no estúdio Toca do Bandido, junto com Véu de Filó, interpretada aqui por Pedro com Bruna Caram e Duda Brack, e Indivídua, em que ele divide os vocais com João Cavalcanti – e com intervenção performática de Cabelo. “A minha vontade era fazer minha leitura delas. Músicas que, às vezes, não cabem nos meus projetos coletivos”, diz Pedro. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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