Nova análise do Conselho Federal de Medicina aponta queda acentuada de leitos do SUS desde 2010. Pediatria e obstetrícia foram as áreas mais comprometidas
Os quatro estados da região Sudeste perderam nos últimos quatro anos quase 10 mil leitos de internação, destinados a pacientes que precisam permanecer num hospital por mais de 24h horas. Em julho de 2010, a região dispunha de 131,1 mil leitos de internação para uso exclusivo do Sistema Único de Saúde (SUS), número que caiu para 121,4 em julho deste ano – queda de quase 7 leitos ao dia. As informações foram apuradas pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) junto ao Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES), do Ministério da Saúde. O período escolhido levou em conta informação do governo federal de que os números anteriores a 2010 poderiam não estar atualizados.
Para o presidente do CFM, Carlos Vital, os dados revelam uma realidade que, diariamente, aflige médicos e pacientes em unidades hospitalares de todo o país. “A insuficiência de leitos para internação ou realização de cirurgias é um dos fatores que aumenta o tempo de permanência dos pacientes nas emergências. Por falta desses leitos, os pacientes acabam ‘internados’ nas emergências à espera do devido encaminhamento ou referenciamento”. Segundo Vital, a falta de leitos para internação é considerada a principal causa da superlotação e do atraso no diagnóstico e no tratamento, que, por sua vez, aumentam a taxa de mortalidade.
Em números absolutos, o estado do Rio de Janeiro foi o que mais sofreu com redução no período, 5.977 leitos desativados desde julho de 2010, 30% deles apenas na capital. Na sequência aparece Minas Gerais, com menos 2.132 leitos. São Paulo desativou 1.993 no período, um quarto deles na capital. O estado do Espírito Santo apresentou ligeira alta de leitos (398 a mais). Dentre as especialidades mais afetadas no período, em nível local, constam pediatria (-2.078 leitos), obstetrícia (-1.361) e cirúrgicos (-1.358). Confira os indicadores das especialidades nos ESTADOS e CAPITAIS.
Leitos de observação e UTI – O levantamento do CFM apurou ainda os chamados leitos complementares (reservados às Unidades de Terapia Intensiva (UTI), isolamento e cuidados intermediários). Ao contrário dos leitos de internação, essa rede complementar apresentou alta de 9%, passando de 11.248 em julho de 2010 para 12.260 no mesmo mês de 2014. O maior acréscimo aconteceu no estado de São Paulo (573), seguido por Minas Gerais (326).
Também foram apurados na pesquisa os leitos de repouso, utilizados para suporte das ações ambulatoriais e de urgência, como administração de medicação endovenosa e cirurgias ambulatoriais ou de emergência com permanência até 24 horas. Nesta categoria, houve um aumento de 13% na quantidade de leitos no período. Confira os indicadores por tipo de leito nos ESTADOS e CAPITAIS.
Brasil abaixo da média mundial – Em todo o país, quase 15 mil leitos de internação foram desativados na rede pública de saúde desde julho de 2010, segundo o levantamento do CFM. Naquele mês, o país dispunha de 336,2 mil deles para uso exclusivo do SUS. Em julho deste ano, o número passou para 321,6 mil – uma queda de quase 10 leitos por dia.
Embora a Organização Mundial de Saúde (OMS) e a Organização Pan-americana da Saúde (OPAS) não recomendem ou estabelecem taxas ideais de número de leitos por habitante, é possível observar que, em relação a outros países com sistema universais de saúde, o Brasil aparece com um dos piores indicadores.